Economia Global pode ser afetada em 2020, segundo ONU

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Tensões Comerciais e Geopolíticas devem afetar a Economia Global

Afetada por prolongadas disputas comerciais, a economia global teve seu menor crescimento da década no ano passado, desacelerando para 2,3%. Para este ano, as Nações Unidas preveem leve aceleração da atividade econômica se os riscos forem mitigados, de acordo o relatório “Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2020” (WESP 2020, na sigla em inglês), lançado globalmente nesta quinta-feira (16/01). No Brasil, a expectativa é de recuperação da demanda doméstica, com crescimento de 1,7% neste ano.

 

O relatório aponta que o crescimento global de 2,5% em 2020 é possível, mas o aumento de tensões comerciais, a turbulência financeira ou a escalada de tensões geopolíticas podem impedir esta recuperação. Num cenário negativo, o crescimento global pode desacelerar para apenas 1,8% neste ano.

 

Uma prolongada fraqueza na atividade da economia global pode causar significativos retrocessos para o desenvolvimento sustentável, incluindo objetivos como erradicação da pobreza e criação de trabalho decente para todos. Ao mesmo tempo, desigualdades generalizadas e o aprofundamento da crise climática provocam crescente descontentamento em muitas partes do mundo.

 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que estes riscos podem provocar danos severos e prolongados às perspectivas de desenvolvimento. A liderança das Nações Unidas alerta:

 

“Também ameaçam encorajar um aumento de políticas mais introspectivas, num momento em que a cooperação global é indispensável”.

 

 

Como isso afetará a América Latina?

 

Para a América Latina, o crescimento permanece fraco, de acordo com o WESP 2020. O Relatório aponta que a região deve passar por uma recuperação lenta e não homogênea nos próximos dois anos.

 

Depois de crescer apenas 0,1% em 2019, o PIB agregado deve subir 1,3% em 2020 e 2% em 2021. A atividade econômica será sustentada pela política monetária acomodatícia, junto com a recuperação da demanda doméstica no Brasil. Mas até mesmo essa projeção modesta de recuperação tem riscos significativos, incluindo a deterioração do comércio global, a renovação da volatilidade financeira e o aumento das incertezas políticas.

 

Em 2019, a renda per capta estagnou ou diminuiu na maioria das economias da região, incluindo Argentina e Brasil. Desde o fim do “boom” das commodities, a região tem falhado em alcançar crescimento econômico significativo. A média per capita do PIB latino-americano atualmente é cerca de 4% menor do que em 2014.

 

Em meio à média de rendimento menor e à desigualdade persistente, os níveis de pobreza têm aumentado na região. Os fracassos em proporcionar crescimento econômico inclusivo, ao lado da erosão da confiança nas instituições políticas, têm provocado crescente descontentamento popular em alguns países latino-americanos.

 

Na América Latina, o retorno a um crescimento robusto permanece difícil. Em muitos países, obstáculos estruturais de longa duração estão combinados a ventos contrários de curta duração, como desaceleração do comércio global, preços moderados das matérias-primas e situações políticas voláteis.

 

 

O Brasil pode se recuperar?

 

A recuperação do Brasil pode ganhar algum impulso com o aumento da confiança das empresas e o crescimento projetado pode aumentar do 1% estimado para 2019 a 1,7% em 2020. A perspectiva de curto prazo para a Argentina enfrenta incertezas maiores. Para 2020, a expectativa é de terceiro ano consecutivo de retração, embora com a uma taxa melhor do que no ano passado. Entretanto, já Paraguai, Peru e Uruguai devem ter um considerável crescimento na atividade econômica em 2020, graças à recuperação da demanda doméstica.

 

Com intensificação dos riscos, os tomadores de decisão da América Latina enfrentam desafios. A região tem confiado primariamente na política monetária para amortecer a atual desaceleração. No entanto, em função das baixas taxas de juros e da frágil confiança por parte do mercado financeiro, o espaço para mais alívio monetário é limitado.

 

Ao mesmo tempo, pressões fiscais permanecem grandes, enquanto muitos países lutam com déficits consideráveis e aumento dos custos da dívida. A consolidação fiscal tem sido implementada através de cortes no investimento público, o que pode dificultar as perspectivas de crescimento da economia global há longo prazo.

 

Economia Global em Crise
Porto de Kwai Chung em Hong Kong. Foto: Flickr (CC) / uituit

 

 

A Crise na economia global pode afetar o mundo todo

 

Nos Estados Unidos, a recente diminuição da taxa de juros feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode dar algum apoio à atividade econômica. No entanto, dada a persistência da incerteza política, a fraca confiança empresarial e o exíguo estímulo fiscal, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve desacelerar de 2,2% em 2019 para 1,7% em 2020.

 

Na União Europeia, o setor produtivo continuará detido pelas incertezas globais, mas isso será parcialmente compensado pelo contínuo crescimento do consumo privado, permitindo uma modesta aceleração do PIB de 1,4% em 2019 para 1,6% em 2020.

 

Apesar de significativos ventos contrários, o crescimento em outros grandes países emergentes como o Brasil pode ganhar algum impulso em 2020, lembrou o documento. Em um terço dos países em desenvolvimento que dependem de matérias-primas — onde moram 870 milhões de pessoas — a média de rendimentos reais são menores hoje do que eram em 2014. Isso inclui grandes países como Angola, Argentina, Brasil, Nigéria, Arábia Saudita e África do Sul.

 

Além do crescimento do PIB, outras medidas de bem-estar pintam um quadro mais sombrio em diversas partes do mundo. Portanto, a crise climática, a persistência de grandes desigualdades, os crescentes níveis de insegurança alimentar e de desnutrição continuam a afetar a qualidade de vida em muitas sociedades.

 

Elliott Harris, economista-chefe e assistente do secretário-geral da ONU para o desenvolvimento econômico enfatizou:

 

“Tomadores de decisões devem avançar para além do foco restrito de meramente promover o crescimento do PIB e, em vez disso, procurar melhorar o bem-estar em todos os setores da sociedade. Isto requer priorizar o investimento em projetos de desenvolvimento sustentável para promover educação, energia renovável e infraestrutura resiliente”.

 

Mudanças Necessárias

 

Para combater as mudanças climáticas, as necessidades crescentes de energia do mundo devem ser atendidas com fontes renováveis ou de baixo carbono. Isso irá exigir ajustes massivos no setor de energia, que atualmente é responsável por cerca de ¾ das emissões globais dos gases de efeito estufa. Se as emissões per capta dos países em desenvolvimento crescerem aos níveis das economias desenvolvidas, as emissões globais de carbono aumentariam mais de 250% — enquanto o objetivo global é de emissões zero até 2050.

 

A urgência da transição energética continua subestimada, resultando em decisões míopes. Desta forma, como expandir o investimento na exploração de gás e petróleo e na geração de energia à base de carvão. Isso não apenas deixa muitos investidores e governos expostos a perdas abruptas, mas também apresenta revés significativo para metas ambientais.

 

Qualquer demora na tomada de decisão na transição energética pode dobrar custos eventuais, de acordo com as Nações Unidas. A transição para uma combinação de energia mais limpa trará não apenas benefícios ambientais e de saúde, mas também oportunidades econômicas para muitos países.

 

A confiança excessiva na política monetária não é apenas insuficiente para estimular o crescimento, mas também implica custos significativos, incluindo riscos exacerbados de estabilidade financeira. É necessário um conjunto mais balanceado de políticas, segundo o documento da ONU. O documento também informa que tal mudança deve estimular o crescimento econômico enquanto busca maior inclusão social, igualdade de gênero e produção sustentável ambientalmente.

Por fim, Elliott Harris conclui:

“Em meio ao crescente descontentamento por conta da falta de crescimento inclusivo, pedidos de mudança se espalham pelo mundo. É necessário maior atenção para as implicações ambientais e distributivas de medidas políticas”.

 

Fone: ONU

 

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