molhe do Recanto

Molhe do Recanto de Itaipuaçu: amigo ou inimigo?

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Antes de Mais nada, a M1News convidou Gerhard Sardo para uma conversa nos estúdios da M1News, no Recanto de Itaipuaçu, Maricá. Gerhard, analista ambiental, apontou sua posição sobre o Molhe do Recanto. Por certo, assunto que tem mantido inflamadas diversas discussões em Itaipuaçu. 

Assista aqui entrevista que foi transmitida ao vivo pelo canal da M1News do YouTube:

 

O molhe do Recanto é um risco?

Acima de tudo, muito tem se falado sobre o molhe do Recanto, com previsões catastróficas para toda região. Por certo, teme-se que o molhe do Recanto possa provocar uma tsunami sobre a zona costeira, adentrando o Canal da Costa e varrendo o perfil praial de Itaipuaçu. Sem dúvida, riscos existem, por exemplo:

  • quando não observadas orientações técnicas na literatura acerca da erosão marinha que avança em inúmeras praias do Estado do Rio de Janeiro;
  • riscos motivados por mudanças climáticas, a saber; degelo dos pólos norte e ártico e dos alpes, consequentemente, com aumento gradativo do nível do mar ou;
  • motivados por ocupações humanas inadequadas.

Em Itaipuaçu já testemunhamos a força das marés sobre a faixa litorânea inúmeras vezes. Com efeito, recordando as ressacas de 1993 e 2004, onde registramos indicadores do avanço exponencial do mar sobre a linha de costa. Além disso registramos leques de arrombamentos em direção ao Canal da Costa em vários pontos no Recanto.  Arrombamentos que geraram, ainda, a destruição de uma estrada e dezenas de prédios particulares junto praia. De antemão, situação estimulada por uma triste história de décadas de extração ilegal de areia na região.

A areia deve permanecer na praia

Não resta dúvida que a areia sob influência de marés deve permanecer na praia, uma vez que é objeto da movimentação de sedimentos determinada pela força dos ventos e correntes marítimas de sentidos cardeais diversificados. Destaca-se aqui o vento sudoeste, sul, sudeste e leste. Ventos que mantem o equilíbrio natural do perfil praial em toda extensão do litoral maricaense. A preocupação com a manutenção dos bancos de areia é, portanto, uma necessidade. Sem dúvida, seu remanejamento pode acelerar o processo natural de erosão costeira. Semelhantemente, observamos que o material detrítico, a saber; material produzido por desgaste físico e reduzido a partículas de variados tamanhos resultante do desassoreamento, deve retornar ao mar, seguindo a lógica natural.

Risco da dragagem do Canal

Outra situação conflitante, também alardeada com propriedade, mas sem propósito, uma vez que em momento algum foi anunciada a dragagem da extensão do Canal da Costa, é a intrusão marinha, ou seja, avanço do bolsão salino por percolação no subsolo, que pode gerar a salinização do lençol freático de Itaipuaçu. Com efeito, um risco iminente, caso haja aprofundamento do canal superior a um metro.

No entanto a obra do molhe está localizada na desembocadura do Canal da Costa e não no seu interior ou extensão. Após a conclusão do molhe, a abertura permanente do Canal não tencionará um avanço significativo de água do mar na extensão do canal. Talvez, no máximo, um quilômetro (chegando ao Morro da Peça). Entretanto, o Morro da Peça é área que já recebe imensa carga de água salinizada por infiltração no subsolo em períodos de maré alta e ressacas.

E mesmo que, futuramente haja o desassoreamento (necessário) do Canal da Costa em profundidade média de um metro, sua comunicação com o sistema lagunar de Maricá não tornar-se-á uma ameaça às condições biológicas desse ecossistema. Certo que seus doze quilômetros de extensão serão um obstáculo natural para adentrar o mesmo, visto que sua hidrodinâmica é vazante em direção ao oceano, situação confirmada pelo Rio Itaocaia e o sistema de coleta de águas pluviais.

Ferramenta de contenção

A obra costeira do molhe, portanto, assegurando o banco de areia na praia, não é uma ameaça a população e aos ecossistemas costeiros. Sem dúvida, será uma ferramenta de contenção do avanço da erosão costeira no Recanto. Visto que propicia, conforme a movimentação de sedimentos marinhos, o acúmulo de areia na face externa do mesmo. Semelhantemente, dará forma a uma pequena faixa de praia, considerando incidência de ventos e correntes marítimas nos sentidos leste e sudeste mais presentes na zona costeira de Maricá.

Reitara-se que a abertura definitiva da foz do Canal da Costa não deve ser aprofundado mais que dois metros. Destaque para a *foz*. A intervenção na extensão do canal é que pode motivar o avanço da intrusão marinha sob o lençol freático. E, não a abertura da *foz*.

Matéria orgânica após abertura do Canal

Desse modo, vamos analisar o eventual aumento da carga de matéria orgânica no mar com a abertura permanente da foz do Canal da Costa. A matéria orgânica não pode ser vista como algo prejudicial à vida marinha. Então, veja o exemplo do Canal de Itaipu, em Niterói. O Canal de Itaipu, na maré vazante, expele imensa quantidade de águas carregadas de matéria orgânica. Entretanto, essa matéria orgânica expelida não tem alterado o estoque pesqueiro da região. De fato, inclusive é uma Reserva Extrativista Marinha.

Outro exemplo é a Baía de Guanabara, que recebe imensurável carga de matéria orgânica. Analogamante, recebe carga de óleos, graxas e grande diversidade de metais pesados (altamente poluentes). Entretanto, ainda assim, produz grande quantidade de pescado, crustáceos e moluscos devido ao seu poder de renovação das águas interiores.

Em Itaipuaçu a vida marinha não será impactada pela carga orgânica oriunda do Canal da Costa. Sobretudo pela alta energia de movimentação de correntes marítimas que assegurará sua dispersão e renovação das águas. Oportuno destacar, ainda, que a administração municipal busca executar um plano de saneamento para região. Plano que a médio e longo prazos resultará na coleta e tratamento do esgoto in natura no distrito. Sem dúvida, o que neutralizará a degradação do ambiente aquático do canal.

Alento para o Recanto

Superadas essas dúvidas, bem como a burocracia estatal do adequado licenciamento ambiental para sua continuidade, compreendo que a obra costeira do molhe será um alento para o Recanto sob vários aspectos, a saber:

  • pesqueiro,
  • turístico,
  • desportivo,
  • comercial e,
  • imobiliário, valorizando o bairro e atendendo moradores e turistas.

Por isso apoio a iniciativa e a conclusão da obra costeira do molhe no Recanto.

Gerhard Sardo 
#MolheRecanto #EuApoio #Itaipuaçu #MaricáRJ 

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