literatura negro afetiva

Debate sobre literatura negro afetiva com Otávio Junior e Sônia Rosa marca o quinto dia da Festa Literária de Maricá

Compartilhe essa matéria:

Debate sobre literatura negro afetiva na FLIM

A literatura negro afetiva foi tema de debate realizado na noite de terça-feira (18/10), no quinto dia da Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), organizada pela Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria de Educação. O evento acontece até o dia 26/10, das 8h às 21h, na área externa do Centro Administrativo de Itaipuaçu (Rua Van Lerbergue, n° 249), com entrada gratuita.

 

Os escritores Otávio Junior e Sônia Rosa falaram sobre seus livros que têm negros como protagonistas. Já os professores da rede municipal de ensino Douglas Heliedorio e Dilcemeres José Costa mostraram como utilizam o tema e as ideias dos autores em sala de aula.

 

Na abertura, a escritora Sônia Rosa, autora de “O Menino Nito”, disse que escreveu a obra em 1988, e lançou em 1995, tendo um personagem negro como protagonista, porque na sua infância os livros representavam as pessoas negras de forma negativa, sem família e sem história. Por isso, resolveu fazer diferente e lançou o livro que é trabalhado nas escolas municipais de Maricá.

 

Segundo ela, após as criações das leis 1.639/2003 e 11.645/2008 que estabelecem a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira e indígena na educação básica, sendo marcos jurídicos importantes para reconhecimento da importância cultural e histórica desses povos para o Brasil, muitos cursos foram abertos e ajudaram no aprofundamento dos saberes.

 

“Apesar da maioria da população no Brasil ser negra com 54%, a gente tem no país um racismo estrutural. É muito importante quando a Flim traz para o espaço de poder homens e mulheres negras, mostrando a sensibilidade de Maricá nessa perspectiva de contemplação da pessoa negra e dá o exemplo para o mundo colocando na Flim esse protagonismo de autores e histórias”, destacou Sônia.

 

Otávio Junior, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria livro infantil em 2020 com a obra “Da minha janela”, disse que é importante pensar na estética literária com o negro afetivo e citou outras obras que escreveu colocando as pessoas negras como personagens principais. Em “Menino Benjamin”, faço uma homenagem ao primeiro palhaço negro do Brasil que foi Benjamin de Oliveira.

 

“Da minha janela” mostra o olhar de uma criança negra que narra cada coisa, pessoa e animal que vê da sua janela em uma favela do Rio de Janeiro. Dela ele vê cores, traços, gestos, objetos e bichos cujas vidas podem ser parecidas ou diferentes da sua, mas com certeza têm algo a ensinar”, pontuou o escritor, que recebeu um quadro pintado por Gabriel Correa Marçal, de 10 anos, aluno do 5 ano da Escola Municipal Anisio Teixeira, de Itaipuaçu, especialmente para o autor.

 

“Importante salientar o professor na vida dessa criança que trouxe a leitura e encantou o aluno. Que presente maravilhoso. Estou muito feliz e emocionado”, disse Otávio.

 

Com um olhar encantado, o menino Gabriel recebeu das mãos de Otávio o livro autografado e contou porque resolveu fazer essa homenagem.

 

 

“Gostei muito do livro porque ensina que a favela não é só tráfico, coisa ruim. Mostra que na favela também tem alegria”, afirmou.

 

O professor na vida de Gabriel, citado pelo escritor Otávio Junior, é Douglas Heliedorio, que também trabalha com Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Maricá. Ele estudou em escola pública no Rio de Janeiro, onde nasceu e cresceu – morou na favela de Rio das Pedras, em Jacarepaguá -, mas escolheu trabalhar na rede municipal de ensino de Maricá por acreditar no projeto construído na cidade. O professor contou que somente teve acesso ao livro “O Menino Nito”, de Sônia Rosa, em um curso de especialização de contação de histórias em 2017, mais de 30 anos depois que foi escrito.

 

“Pra gente ver como essa história não foi trabalhada em muitas escolas até hoje. Muitos colegas nem conhecem o livro. Na literatura brasileira, o negro sempre foi retratado com uma perspectiva negativa. Quando surge a possibilidade do negro numa perspectiva positiva é fundamental pra gente se ver nos livros, na mídia e outros espaços que não eram comuns. Ter autores que contém essa perspectiva do negro é muito importante”, reforçou Douglas.

 

O encontro teve mediação de Dilcimeres José Costa, docente da rede municipal. Ela contou que quase desistiu da profissão quando um aluno disse que não queria uma professora negra, mas superou o racismo e leva para as salas de aula, entre outros autores, as obras dos convidados da mesa: Sônia Rosa e Otávio Júnior.

Confira a programação desta quarta-feira (19/10) e da semana em anexo

Quarta-feira (19/10) – Cultura, diversão e arte!
8h às 17h – Mostra Pedagógica
10h – Caravana da Cultura – Música, dança, contação de histórias, mágicos e mímicos
11h – Brinquedos e Brincadeiras
14h – Caravana da Cultura – Música, dança, contação de histórias, mágicos e mímicos
15h – João e Pedro “Brincando com Argilas”
16h – Apresentação Mágico Dragon e seu Boneco Falante Trancinha
18h – Lançamento do Programa Municipal Dinheiro de Transferência Dinheiro Direto na Escola
19h – Voz e Violão com Allex Barcelar

Foto: Anselmo Mourão

Sobre o autor(a)


Compartilhe essa matéria: