Literatura e leitura na periferia deram o tom do quinto dia da Festa Literária Internacional de Maricá

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Zélia Duncan encerrou atividades do sábado (23/09)

O quinto dia da 8ª Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) recebeu milhares de estudantes, moradores e visitantes que circularam ansiosos por entre os estandes de livros da Tenda Literária. Outras centenas se acotovelaram para assistir às palestras com os escritores convidados das mesas de debate e rodas de conversa com destaque para a presença do escritor, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Antônio Torres.

 

Na parte da manhã o destaque foi a apresentação musical da Mangueira do Amanhã, já à tarde os visitantes puderam assistir a contação de histórias da pedagoga e escritora, Naná Martins e um festival estudantil de artes de Maricá que lotou a lona Porão Cultural. Mães, pais e amigos dos alunos da rede pública se uniram em pequenas “torcidas organizadas” aplaudindo as apresentações dos seus favoritos ao final de cada canção e de declamação de poesias.

 

Um dos eventos mais disputados pelo público no sábado (23/09), foi a roda de conversa na Arena Gilberto Gil, com o tema: “Caminhos da Transformação: Leitura, Literatura e seus impactos na periferia”, que contou com a participação de Felipe Eugênio, coordenador da Periferia Brasileira de Letras (PBL), Israel Neto, escritor Afrofuturismo, Regina Tchelly, escritora e chef da Favela Orgânica e do imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Antônio Torres.

 

Durante a conversa foi abordada a necessidade e a importância da leitura como um dos principais meios de mudanças e propagação de justiça social, principalmente nas periferias brasileiras. A escritora e chef da Favela Orgânica, Regina Tchelly, destacou o desperdício e as oportunidades nas comunidades, como o consumo consciente, gastronomia alternativa, compostagem caseira e hortas em pequenos espaços.

 

Coordenador da Periferia Brasileira de Letras (PBL), Felipe Eugênio, pontuou a literatura e leitura como um grande privilégio em diferentes espaços, com um rico fluxo de produção de pensamento sobre o país, que serve como elemento de sofisticação estética e política.

 

O imortal Antônio Torres da ABL, ressaltou a importância de trocas entre a Academia Brasileira de Letras e a Periferia Brasileira de Letras.

 

“Foi um encontro muito feliz. Muito gratificante poder conhecer esses autores da periferia e trocar experiências. Maricá está dando um exemplo sensacional de fazer esses encontros tão diferentes, tão multiculturais e tão importantes como o momento histórico do Brasil”, contou.

 

O afrofuturismo também foi tema do debate, o escritor Israel Neto contou a sua trajetória dedicada ao fortalecimento e valorização do gênero literário afrofuturista e antirracistas nas periferias.

 

“Trouxe para a FLIM um pouco da minha trajetória literária, de alguns pensamentos que circulam nesse movimento e principalmente provocações de como que esse futuro pode ser construído a partir da participação da comunidade negra e de quem também quer fazer um rompimento com essas lógicas que às vezes perpetuam o racismo”, declarou.

 

O secretário de Educação, Márcio Jardim, falou de poder reunir na roda de conversa a multiculturalidade em diferentes níveis, que se entrelaçam respeitando as diferenças religiosas, posicionamentos políticos, tolerância com a divergência ideológica e as posições e os entendimentos variados sobre temas mais diversos e polêmicos na sociedade.

 

“Quando a gente fala em livro, literatura, por vezes, as pessoas pensam num segmento da sociedade economicamente mais privilegiado, que a gente, para sintetizar, chama de elite. Essa roda de conversa aqui, junta aquilo que também, simbolicamente, do ponto de vista da literatura, da constituição histórica, representa a elite intelectual, a elite cultural do país, que é a Academia Brasileira de Letras, num diálogo direto com autores que têm uma vida, uma vivência e uma obra a partir de uma ótica dos debaixo da pirâmide social, ou seja, da periferia. Este diálogo é uma mostra do que a gente pretende com esta festa literária, que é estabelecer uma nova visão sobre o que é conteúdo literário, sobre o que é arte, sobre o que é cultura e, a partir disso, a gente estabelece o tema do multiculturalismo, que é exatamente a simbiose de tudo aquilo que está ali naquele local”, analisouo secretáriode Educação.

 

Palco Sete Sóis e Sete Luas

 

A cantora Zélia Duncan subiu ao palco Sete Sóis e Sete Luas já na noite de sábado com uma banda afinadíssima para levar ao público músicas de sucesso do seu amplo repertório, como “Catedral”, “Nos lençóis desse reggae”, “Imorais”, “Carne e Osso”, além de músicas de Rita Lee e Cássia Eller.

 

“A festa literária de Maricá é a valorização da cultura local, é um encontro de luta pela cultura brasileira, um evento sobre a cultura, sobre uma cidade. Estou muito feliz e espero voltar em breve”, declarou Zélia Duncan.

 

Programação continua neste domingo (24/09)

 

Neste domingo (24/09), a animação para a criançada fica por conta do Cordel com Edmilson Santini e Neusa Rodrigues com Oficina de Carnaval.

 

A partir das 14h30 acontece a mesa de diálogo com o tema “Ensino, metodologias ativas e educação ao ar livre”, na Arena Gilberto Gil. No início da noite, a partir das 18h a Roda de Conversa com o tema “Teias Literárias entre Brasil e África”, acontece na Arena Gilberto Gil e que conta com a participação do escritor de GuinéBoissau Eliseu Banori e dos escritores e professores Rodrigo Santos e Sandra Gurgel.

 

O evento ainda conta com o show do cantor Rafael Caçula, às 20h30.

 

Sobre o local

 

Em uma área de seis mil metros quadrados, a estrutura terá mais de 60 editoras e espaços especiais dedicados a diferentes públicos, do infanto-juvenil ao adulto. O Espaço Criança abriga a Vila Pé de Maricá, em alusão a árvore que dá nome ao município, e contará com 76 estandes dedicados ao público infanto-juvenil. Já o espaço Porão Cultural é reservado para apresentações de artistas locais de diferentes vertentes. A Tenda Literária abriga 154 estandes de vendas de livros e na Tenda Festart há um amplo espaço com puffs para descanso. A Tenda Codemar + Recarregue-se é um local com redes, cadeiras de praia e tomadas para recarregar a energia e os aparelhos celulares.

 

Mumbuca Literária

 

Este ano, os vouchers para compra de livros foram batizados de “Mumbuca Literária” em referência à moeda social de Maricá. Foram distribuídos 35 mil vouchers para os estudantes das 65 escolas da rede municipal de ensino, bem como os alunos do Instituto Federal Fluminense (IFF) e da rede estadual, como ocorreu nas edições anteriores. Também foram contemplados os estudantes do projeto municipal de alfabetização: “Sim, eu posso”.

A novidade é que, pela primeira vez, os aposentados da Secretaria de Educação de Maricá e os alunos do Passaporte Universitário (programa de concessão de bolsas totalmente gratuitas) também têm direito ao voucher. O valor do “Mumbuca Literária” é equivalente a R$ 200, exceto para alunos do Passaporte Universitário que terão direito a vouchers de R$ 100.

 

Foto: Evelen Gouvêa e Katito Carvalho

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