trabalho

Impacto da pandemia no mercado de trabalho global foi mais intenso do que o previsto

Compartilhe essa matéria:

Impacto da pandemia no mercado de trabalho global

Antes de mais nada, o número de horas de trabalho perdidas em todo o mundo no primeiro semestre de 2020 foi significativamente maior do que o estimado inicialmente, afirmou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) na terça-feira (30).

 

 

Para a organização, a recuperação altamente incerta na segunda metade do ano não será suficiente para retornar aos níveis pré-pandemia, mesmo no melhor cenário. Há ainda risco de uma perda constante de empregos em larga escala, alertou.

 

 

De acordo com a quinta edição do “Monitor OIT: COVID-19 e o mundo do trabalho” (em inglês), globalmente, houve uma queda de 14% nas horas de trabalho no segundo trimestre de 2020, o equivalente à perda de 400 milhões de empregos em período integral (considerando-se uma jornada semanal de trabalho de 48 horas).

 

 

De fato, trata-se de uma queda acentuada comparada à estimativa anterior de baixa de 10,7% (305 milhões de empregos), publicada na edição do Monitor divulgada em 27 de maio.

 

 

Os novos números refletem o agravamento da situação em muitas regiões nas últimas semanas, especialmente nas economias em desenvolvimento. Regionalmente, as perdas de horas de trabalho no segundo trimestre foram de 18,3% nas Américas, de 13,9% na Europa e Ásia Central, de 13,5% na Ásia e Pacífico, de 13,2% nos Estados árabes e de 12,1% na África.*

 

 

A maioria dos trabalhadores e das trabalhadoras do mundo (93%) ainda vive em países com algum tipo de fechamento do local de trabalho, com as Américas enfrentando as maiores restrições.

 

Três cenários para o segundo semestre

 

O novo Monitor apresenta três cenários de recuperação no segundo semestre de 2020: o de referência, o pessimista e o otimista. Desse modo, o estudo salienta que o resultado a longo prazo dependerá da trajetória futura da pandemia e das decisões de políticas dos governos.

 

 

O cenário de referência – que pressupõe uma recuperação da atividade econômica de acordo com as previsões atuais, tendo em vista a suspensão das restrições no local de trabalho e a recuperação do consumo e do investimento – projeta uma redução nas horas de trabalho de 4,9% (equivalente a 140 milhões de empregos em período integral), comparada ao quarto trimestre de 2019.

 

 

O cenário pessimista pressupõe uma segunda onda da pandemia e o retorno de restrições, o que atrasaria significativamente a recuperação. Ainda mais, como consequência, haveria uma queda nas horas de trabalho de 11,9% (340 milhões de empregos de período integral).

 

 

O cenário otimista assume que as atividades dos trabalhadores e das trabalhadoras serão retomadas rapidamente, impulsionando significativamente a demanda agregada e a criação de empregos. Assim, com essa recuperação excepcionalmente rápida, a perda global de horas de trabalho seria de 1,2% (34 milhões de empregos em período integral).

 

O impacto sobre as mulheres

 

O Monitor também constata que as trabalhadoras foram afetadas desproporcionalmente pela pandemia, o que cria o risco de perda de alguns dos modestos progressos em igualdade de gênero das últimas décadas, e de as desigualdades de gênero relacionadas ao trabalho serem exacerbadas.

 

 

O grave impacto da COVID-19 sobre as mulheres está relacionado com uma sobrerrepresentação em alguns dos setores econômicos mais afetados pela crise, como hotelaria, alimentação, comércio e setor manufatureiro.

 

 

Globalmente, quase 510 milhões, ou 40%, de todas as mulheres empregadas trabalham nos quatro setores mais atingidos crise, em comparação com 36,6% dos homens.

 

 

As mulheres também são maioria nos setores de trabalho doméstico, de saúde e de assistência social, onde estão mais sujeitas ao risco de perder a renda, de infecção e transmissão, além de ser menos provável que elas tenham acesso à proteção social.

 

 

A distribuição desigual do trabalho de cuidado antes da pandemia também se agravou durante a crise, devido ao fechamento de escolas e serviços cuidados.

 

Principais desafios futuros

 

Embora os países tenham adotado medidas políticas com rapidez e escopo sem precedentes, o Monitor destaca alguns dos principais desafios futuros.

 

 

Entre eles, está encontrar o equilíbrio justo e o sequenciamento adequado entre as intervenções em saúde e econômicas; e, entre as intervenções sociais e políticas para produzir os resultados ótimos e duradouras no mercado de trabalho.

 

 

Outros desafios são implementar e manter intervenções políticas na escala necessária quando os recursos provavelmente serão cada vez mais limitados; proteger e melhorar as condições dos grupos vulneráveis, desfavorecidos e mais afetados para que os mercados de trabalho sejam mais justos e equitativos.

 

 

A OIT também cita o desafio de assegurar a solidariedade e o apoio internacional, especialmente para os países emergentes e em desenvolvimento; e de fortalecer o diálogo social e o respeito pelos direitos.

 

 

“As decisões que adotarmos agora repercutirão nos próximos anos e para além de 2030. Embora os países estejam em diferentes estágios da pandemia e muito tenha sido feito, devemos redobrar nossos esforços se quisermos sair desta crise em melhor forma do que estávamos quando ela começou”, disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

 

 

“Na próxima semana, a OIT convocará uma Cúpula Mundial virtual, de alto nível, sobre a COVID-19 e o mundo do trabalho. Eu espero que governos, trabalhadores e empregadores aproveitem esta oportunidade para apresentar e ouvir ideias inovadoras; discutir lições aprendidas e elaborar planos concretos para trabalhar em conjunto na implementação de uma recuperação rica em empregos; inclusiva, justa e sustentável. Todos devemos avançar no desafio de construir um futuro do trabalho melhor”, enfim, concluiu Guy Ryder.

 

 

Foto: ONU

Fonte: ONU

Sobre o autor(a)


Compartilhe essa matéria: