Últimas da Vacina: enquanto ritmo de vacinação cai 54%, Butantan suspende produção
Butantan suspende produção
Nesta sexta-feira (14), o Instituto Butantan, após entregar 1,1 milhão de doses ao Plano Nacional de Imunização (PNI), do ministério da Saúde, suspendeu completamente a produção do imunizante CoronaVac, sem data para retomá-la. Cerca de 15 estados já paralisaram a aplicação da primeira ou segunda dose por escassez de vacina.
No dia 6 de maio, o Butantan reiterou solicitação ao laboratório chinês Sinovac por 6.000 litros de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para produzir 10 milhões de doses. Cerca de 3.000 litros desse montante estava previsto para ser entregue ainda em abril.
Já a Fiocruz, que deverá entregar ainda nesta sexta-feira (14) 4,1 milhões de doses da vacina produzida em parceria com a Universidade de Oxford e o laboratório britânico AstraZeneca, informou que só tem insumos (também advindos da China) para garantir a produção até semana que vem.
“Até a chegada do IFA, dia 22, haverá interrupção na produção de alguns dias na próxima semana. Se houver impacto nas entregas será comunicado mais à frente. As entregas permanecem semanais, às sextas, conforme pactuado com o Ministério da Saúde, seguindo logística definida pela pasta”, disse a fundação, em comunicado.
O ritmo de vacinação contra o novo coronavírus no Brasil, que já estava aquém do desejável, diminuiu 57% em duas semanas. A média diária de imunização saiu de 995 mil no dia 29 de abril e foi para 429 mil no dia 12 de maio.
Na última quinta-feira (13), o país estava em 7º lugar no ranking de países que mais aplicam doses de vacina numa média móvel de sete dias por 100 pessoas, produzido pela plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford. No dia 14 de abril, o Brasil estava em quinto lugar. Em primeiro lugar está a Alemanha, seguida por Itália, Reino Unido, França, China e Estados Unidos. O Brasil está à frente somente da Índia, na relação dos oito países que mais aplicam doses.
Falas desastrosas
Dimas Covas, presidente do Butantan, atribuiu o atraso no recebimento do insumo à “falta de alinhamento” do governo federal.
“Espero que o ministro das relações exteriores cumpra seu papel e atue o mais breve possível e com êxito para que tenhamos a liberação desses insumos em Pequim para que o Instituto Butantan possa retomar a produção da vacina aqui em São Paulo”, afirmou Covas.
Diante do quadro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que “isso causa profundo mal-estar na chancelaria chinesa”. Também fez questão de registrar como governador de São Paulo seu protesto: “essas manifestações agressivas e desnecessárias ao governo da China, à produção das vacinas e a colocações não contribuem à normalidade da entrega de IFA para vacinas. Tenho certeza que isso tem influência nos insumos da AstraZeneca”.
Na primeira semana de maio, Bolsonaro relacionou o novo coronavírus, que surgiu primeiramente em Wuhan, na China, a uma possível “guerra bacteriológica”.
“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”, declarou o presidente. Na mesma linha, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a covid-19 foi criada no país asiático.
Nas redes sociais, na última quarta-feira (12), Doria pediu ao embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a liberação de mais insumos:
Notificação extrajudicial à Anvisa
O Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), que é responsável pela fabricação e distribuição do imunizante Sputnik V, enviou uma notificação extrajudicial à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) questionando as declarações que foram feitas pelos diretores da agência sobre a segurança e eficácia do imunizante.
A decisão unânime entre os colegiados da agência de proibir a importação da vacina russa Sputnik V, em 26 de abril, provocou reações negativas de Kirill Dmitriev, diretor do Fundo Soberano da Federação da Rússia, que financiou o desenvolvimento do imunizante.
O diretor afirmou que a determinação da Anvisa foi “antiprofissional e mentirosa” ao supostamente divulgar informações falsas sobre o imunizante, que já foi aceito e distribuído por cerca de 62 países. “É muita injustiça e falta de profissionalismo da Anvisa lançar luz de incertezas contra o trabalho de outras 62 agências regulatórias que aprovaram a nossa vacina”, diz a nota.
Dmitriev também afirmou que a decisão é resultado da interferência estadunidense nas decisões brasileiras para “não deixar a Sputnik entrar no país”. Na ocasião, ele citou um relatório do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos com informações sobre tentativa de persuadir o Brasil a rejeitar o imunizante russo, produzido pelo Instituto Gamaleya.
“Isso faz parte da política. O que ela [Anvisa] vem pedindo de documentação para nós é bem maior e diferente do que pede para outros órgãos regulatórios e produtores de vacinas”, afirmou Dmitriev.
Segundo o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos, Gustavo Mendes, que faz parte do colegiado da Anvisa que recusou a vacina russa, esta última apresenta um risco por conter “adenovírus replicantes”. Em suas palavras, isso significa que o vírus utilizado para carregar o material genético do coronavírus para as células humanas — o que estimula a criação de anticorpos, se reproduz — o que não deveria ocorrer.
“Esse procedimento está em desacordo com o desenvolvimento de qualquer vacina de vetor viral”, afirmou.
Mas, de acordo com Dmitriev, o vírus replicante nunca foi encontrado. “Esta tecnologia ajuda a obter um produto altamente purificado que passa pelo controle de qualidade obrigatório, incluindo controle de RCA [adenovírus competente para replicação] ou de presença de qualquer aditivo”, informou comunicado do fundo russo. “Não acreditam no estado russo. Nosso ensaio clínico foi feito em cinco países, incluindo a Índia. Algumas vacinas aprovadas no Brasil não receberam esse selo no mundo”, disse Dmitriev.
Anvisa aprova testes da Covaxin
Na última quinta-feira (13), a Anvisa aprovou os testes em voluntários no Brasil da vacina Covaxin, produzida entre as empresas Precisa Farmacêutica e a indiana Bharat Biotech.
O ministério da Saúde do Brasil fechou um contrato com a empresa para receber 20 milhões de doses que deveriam ser entregues ainda em abril. No entanto, no final de março, a Anvisa recusou as solicitações de importação e uso emergencial da Covaxin. De acordo com o órgão, houve o descumprimento de regras sobre boas práticas de produção, como problemas na documentação, na metodologia de análise e para “esterilização, desinfecção, remoção ou inativação viral”.
O imunizante Covaxin apresentou uma eficácia geral de 78% para os casos sintomáticos da doença de covid-19 e 100% nos casos graves. Os resultados foram provenientes da fase 3 de testes clínicos, que contou com a participação de 25,8 mil voluntários indianos entre 18 e 98 anos.
Vacinação e pandemia no Brasil
Até às 20h desta quinta-feira, 37.744.357 pessoas receberam a primeira dose de vacina, o que representa 17,82% da população brasileira. Já a segunda dose foi aplicada em 8,88% da população, 18.807.027 pessoas. No total, foram aplicadas 56.551.384 doses, segundo o consórcio de veículos de imprensa.
Paralelamente, o Brasil superou 430 mil mortos por covid-19. Até às 18h desta quinta, foram contabilizadas 2.383 vítimas nas últimas 24 horas, totalizando 430.417 óbitos desde o início da pandemia. Em relação à quantidade de casos, o país somou 15.433.989 desde o início, com os novos 74.592 casos identificados nas últimas 24 horas desta quinta, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Foto: Governo do Estado de São Paulo
Fonte: Brasil de Fato
Edição: Vinícius Segalla