Ernesto Araújo

Relembre 6 vezes em que Ernesto Araújo rompeu com a tradição diplomática brasileira

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6 vezes em que Ernesto Araújo rompeu com a tradição diplomática

O ex-ministro de Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, pediu demissão depois de pouco mais de dois anos no cargo e uma lista de posições polêmicas. Além de senadores, deputados federais e prefeitos, 300 diplomatas brasileiros pediram sua saída do Palácio do Itamaraty.

 

 

Araújo foi aluno do astrólogo, reconhecido como “guru da direita”, Olavo de Carvalho, e era considerado um dos seguidores fervorosos do “olavismo” dentro do governo Bolsonaro. O ex-chanceler foi acusado por especialistas e ex-ministros de romper com a tradicional diplomacia de paz brasileira.

 

 

O Brasil de Fato compilou seis momentos em que o Itamaraty comandado por Araújo rompeu posicionamentos históricos e aproximou o país do título de pária internacional.

 

Quebra de patentes e relação com OMS

 

O Brasil foi a única ‘potência emergente’ a se posicionar contra a quebra de patentes das vacinas contra a covid-19 na Organização Mundial do Comércio (OMC).

 

 

Para acelerar a produção e distribuição do imunizante pelo mundo, África do Sul e Índia apresentaram a proposta de ruptura das patentes e divulgação das fórmulas de maneira livre. O documento foi apoiado por 100 países, mas rechaçado pelos EUA, União Europeia, Reino Unido e Brasil.

 

 

No ano passado, os representantes brasileiros também foram os únicos a embarcar na campanha de Donald Trump contra a Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

 

Uma resolução debatida por um dos comitês da Assembleia Geral da ONU reconhecia a importância do organismo no combate à emergência sanitária global do novo coronavírus.

 

 

Em uma contraproposta, os EUA, que haviam rompido com a OMS, queriam apagar essa parte do documento. Nenhum aliado histórico da Casa Branca votou à favor, somente o Brasil.

 

China defende multilateralismo e que vacina contra covid-19 seja considerada um bem comum pelos países da ONU / Reprodução

 

China

 

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, destino de 32% das exportações brasileiras, o que oferece um superávit comercial de US$ 50,9 bilhões (cerca de R$ 255 bilhões) ao país. No entanto, diante da hostilidade do governo Bolsonaro, os chineses buscam fazer negócios com outros países.

 

 

Os ataques à China se agravaram com o início da pandemia. Em seu blog, o ex-ministro chegou a falar em “comunavírus” defendendo uma posição xenófoba de que a China seria a responsável pela pandemia da covid-19.

 

 

O Brasil continua com dificuldades de adquirir doses das vacinas chinesas, equipamentos de proteção individual e outros insumos. China e Índia fornecem cerca de 70% dos suprimentos médicos importados pelo Brasil.

 

 

Apesar de assumir o cargo se reafirmando como um defensor do “globalismo”, Araújo deixou que as relações bilaterais com a China fossem ameaçadas por declarações xenófobas do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.

 

 

“Um dos instrumentos do globalismo é afirmar que, para fazer comércio e negócio, não se pode ter ideias e espalhar valores. Com um sentido de harmonia e missão, formularemos programas para desenvolver cada relação de maneira dinâmica”, declarações de Ernesto Araújo em outubro de 2019.

 

Já em novembro de 2020, após a derrota de Trump nas urnas, Araújo expressou apoio do Brasil à Aliança Rede Limpa, uma iniciativa da gestão Trump para levar países aliados de Washington a não utilizarem a tecnologia 5G e da gigante tecnológica chinesa Huawei.

 

Bloqueio contra Cuba

 

Cuba sofre um bloqueio econômico dos Estados Unidos desde 1962, acumulando US$ 114,4 bilhões em prejuízos, segundo o governo cubano. Todos os anos, a ilha oferece um relatório detalhado com os danos do embargo à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e propõe uma resolução que defende o fim do bloqueio econômico.

 

 

Nas últimas cinco décadas, o Brasil votou junto com mais de 100 países membro da ONU contra o bloqueio. Já em 2019, seguiu a linha dos Estados Unidos e assim, como Israel, votou contra a resolução cubana e à favor do embargo.

 

Conselho Direitos Humanos

 

A diplomacia brasileira também votou de maneira contraditória no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Na última semana, o organismo aprovou, com 38 votos favoráveis, 15 contrários e duas abstenções, uma resolução que reconhece os efeitos negativos das sanções unilaterais impostas pelos EUA e União Europeia.

 

O Brasil foi o único país latino-americano a se opor ao documento.

 

 

Em 2019, o país também votou contra direitos reprodutivos e menções relacionadas aos direitos LGBTQ nas resoluções aprovadas pelo organismo, concordando com o Paquistão em eliminar a educação sexual do texto final da resolução das Nações Unidas.

 

 

“O Brasil permanecerá na vanguarda do direito à vida e na defesa dos indefesos, não importa quantos países legalizem a barbárie do aborto indiscriminado, disfarçado de saúde reprodutiva ou direitos sociais”, declarou Araújo em dezembro de 2020.

Boicote ao Mercosul

 

O Brasil foi um dos principais promotores do Mercado Comum do Sul (Mercosul), criado em 1991. Com a gestão de Bolsonaro e Araújo, o país deixou de priorizar relações bilaterais com os vizinhos latino-americanos para aumentar os laços com os Estados Unidos e Europa.

 

 

O ex-chanceler se autocreditava o avanço das negociações do acordo comercial Mercosul – Europa. No entanto, o pacto nunca foi assinado, porque os europeus criticam a política ambiental do governo Bolsonaro.

 

TIAR e posição hostil contra Venezuela

 

Desde a Guerra do Paraguai, no século XIX, o Brasil não participa de nenhum conflito armado regional. A situação quase mudou em 2019, quando o governo brasileiro apoiou a aplicação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) contra a Venezuela.

 

 

A ativação do TIAR por 12 países membro da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi vista como uma ameaça de guerra, já que afirmava que a Venezuela representava um risco para a região e os países poderiam atuar militarmente para neutralizá-la.

 

 

Também há uma série de indícios de colaboração do governo de Jair Bolsonaro e do ex-ministro Araújo com a Operação Gedeón, em maio de 2020.

 

 

No contrato assinado pelo opositor Juan Guaidó com os paramilitares, o Brasil dava livre acesso às tropas irregulares ao território brasileiro, em caso de confronto com forças hostis ao novo regime, que seria presidido por Guaidó.

 

 

Edição: Poliana Dallabrida

Foto:  Resumen Latinoamericano

Fonte: Brasil de Fato

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