Escola

Portela fecha o Carnaval do Rio de Janeiro com homenagem a Milton Nascimento

Compartilhe essa matéria:

Última noite de desfiles também teve Mocidade, Grande Rio e Paraíso do Tuiuti, que emocionou Sapucaí com a história da primeira mulher trans do Brasil

Fechando o Carnaval carioca, a Portela foi a última escola da samba a desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, já na madrugada desta quarta-feira (5), e fez uma emocionante homenagem ao cantor Milton Nascimento. O enredo, intitulado “Cantar Será Buscar o Caminho que Vai Dar no Sol”, contou a história do artista e a influência de sua música na vida dos brasileiros, retratando sua trajetória desde Três Pontas (MG), onde foi criado, até sua conexão com o Rio de Janeiro (RJ), onde vive atualmente.

Desenvolvido pelos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues, o desfile não se limitou a uma biografia tradicional. A obra de Milton foi apresentada como uma procissão cultural, partindo de Oswaldo Cruz, berço da Portela, e seguindo até as montanhas de Minas Gerais, terra natal do cantor. As alegorias e fantasias trouxeram referências a canções icônicas de Milton, como Maria Maria e Travessia, além de elementos que simbolizavam o movimento Clube da Esquina e a musicalidade mineira.

Dhavid Normando/Rio Carnaval

As alas representaram momentos fundamentais da carreira do artista, desde sua infância em Minas Gerais até sua consagração como um dos maiores músicos brasileiros. O carro abre-alas trouxe um grande vitral azul e branco, remetendo à canção Cais, enquanto outras alegorias recriaram paisagens sonoras inspiradas em clássicos como Clube da Esquina nº 2 e Canção da América.

Milton Nascimento veio no último carro da escola, cercado de artistas que fazem parte de sua trajetória, como Péricles, BK, Seu Jorge, Djonga, o ator Dan Ferreira e a escritora Conceição Evaristo.

O futurismo

A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu a última noite de desfiles do Grupo Especial do Rio, ainda na noite de terça-feira (4). Com o enredo “Voltando para o futuro – Não há limites para sonhar”, a escola apresentou sua visão futurista para o mundo, que explorou a interação entre o homem e a tecnologia, resgatando elementos que marcaram a trajetória da Mocidade nos anos 1990.

O desfile, desenvolvido pelos carnavalescos Renato Rui de Souza Lage e Márcia Lage, contou com alegorias e fantasias que remetiam a uma viagem intergaláctica, combinando referências à astronomia, ciência e tecnologia. A comissão de frente era formada por robôs gigantes que usavam elementos high-tech, simbolizando a fusão entre o orgânico e o tecnológico.

Mocidade levou robôs gigantes para a avenida / Dhavid Normando/Rio Carnava

O fio condutor da narrativa foi a ideia de que o futuro não é um destino fixo, mas uma construção coletiva, impulsionada pelos sonhos e pela ciência. As alegorias, grandiosas e tecnológicas, misturavam referências a viagens espaciais, inteligência artificial e astrofísica, ao mesmo tempo em que evocavam a espiritualidade e a crença na força do pensamento como motor da transformação.

Em uma das alas mais impactantes, dançarinos representavam seres híbridos, metade humanos e metade máquinas, questionando os limites entre natureza e tecnologia. A escola também abordou, de forma crítica, os desafios éticos da inovação, sugerindo que o avanço tecnológico deve estar a serviço da humanidade e da preservação da vida, e não da sua destruição.

Xica Manicongo na Tuiuti

A Paraíso do Tuiuti foi a segunda escola de samba a entrar na Sapucaí. Ela apresentou um desfile histórico com o enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”, homenageando a primeira mulher trans documentada no Brasil, que viveu no século XVI.

A escola trouxe à tona a história de Francisco Manicongo, um africano escravizado que, ao se vestir e viver como mulher, foi condenado pela Inquisição, sendo posteriormente reconhecido como Xica Manicongo.

Paraíso do Tuiuti destacou a luta pelos direitos das pessoas trans / Eduardo Hollanda/Rio Carnaval

O desfile, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, aprofundou-se na trajetória de Xica, desde sua origem no Congo até sua vida em Salvador (BA), onde enfrentou perseguições por expressar sua identidade de gênero. O desfile destacou a resistência de Xica em preservar sua identidade e espiritualidade, mesmo sob a opressão da escravidão.

Entre os destaques que desfilaram pela Tuiuti, estavam as deputadas federais Érika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG); Indianarae Siqueira; e Eloína dos Leopardos, mulher trans pioneira no Carnaval e primeira rainha de bateria.

As águas do Pará

A Acadêmicos do Grande Rio foi para a avenida com o enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”. A escola mergulhou nas tradições culturais do Pará, destacando a Encantaria e figuras emblemáticas como as três princesas turcas — Mariana, Erondina e Jarina.

A Grande Rio levou para a avenida tradições culturais do Pará, como a Encantaria / Eduardo Hollanda/Rio Carnaval

Sob a liderança dos carnavalescos Leandro Bora e Gabriel Haddad, a Grande Rio trouxe para a avenida alegorias e fantasias que exaltavam a riqueza cultural paraense. Carros alegóricos grandiosos representaram a força das águas amazônicas e a mística das pororocas, enquanto alas coreografadas retrataram os rituais e danças típicas da região, como o carimbó e o siriá. A comissão de frente incorporou elementos da pajelança, simbolizando a conexão entre o mundo material e o espiritual.

A bateria da Grande Rio, comandada pelo Mestre Fafá, trouxe uma batida que mesclou o samba com ritmos amazônicos.

Foto: Mauro Pimentel/AFP
Fonte: Brasil de Fato

Sobre o autor(a)


Compartilhe essa matéria: