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Milton Nascimento é homenageado pela Portela

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Escola campeã do carnaval carioca será conhecida hoje

O final da terceira noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro foi emocionante. Antes mesmo de começar o seu desfile, já no esquenta, o intérprete da Portela, Gilsinho, começou a cantar Maria, Maria, uma das mais representativas músicas de Milton Nascimento, e foi acompanhado por todo o público presente no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

Portela

O enredo da Portela neste carnaval foi Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol. Uma homenagem a Milton Nascimento, o cantor e compositor que entrou na avenida na última alegoria. Durante a travessia na madrugada desta quarta-feira (5), foi saudado pelo público que lotava o Sambódromo. O desfile terminou perto das 5h da manhã.

No desfile desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antonio Gonzaga, não faltaram referências às músicas que o artista compôs ao longo da sua carreira e às memórias de vida. Tudo estava nas fantasias e alegorias.

“É uma emoção que eu me sinto também homenageada como mineira, sou contemporânea de Milton, é uma homenagem justa, porque ele marca o cancioneiro brasileiro. É uma homenagem necessária”, disse à AGÊNCIA Brasil a escritora Conceição Evaristo, que participou do desfile no alto de uma das alegorias.

Rio de Janeiro (RJ), 05/03/2025 – Portela encerra o terceiro dia de carnaval do grupo Especial na Marquês de Sapucaí, na região central do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Portela homenageou Milton Nascimento na Marquês de Sapucaí. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Como a azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira, bairros da zona norte da cidade, já esperava, ao fim da sua passagem pela Passarela do Samba o público seguiu atrás da escola até a Praça da Apoteose e transformou tudo em uma grande celebração ao cantor e compositor.

Depois do desfile, Milton não conversou com a imprensa, mas Augusto Nascimento, filho dele fez um vídeo, enquanto o pai aguardava o guindaste para sair do carro alegórico. Nele, o artista agradece a homenagem.

“Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Obrigado, Portela. Obrigado todo mundo. Um beijão”, afirmou na postagem no seu perfil do Instagram.

A noite de terça-feira foi a última das três com desfiles do Grupo Especial, considerado a elite do carnaval carioca, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Essa foi uma inovação criada pela Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) neste carnaval. Até o ano passado eram duas noites.

Mocidade Independente de Padre Miguel

As apresentações dessa terça-feira foram abertas pela Mocidade Independente de Padre Miguel, que levou para a avenida o enredo Voltando para o Futuro, Não Há Limites pra Sonhar. A escola foi uma das poucas que não escolheram temas relacionados à cultura negra ou à religiosidade para 2025.

A carnavalesca Márcia Lage, que desde o início dos anos 90 atuava com o marido Renato Lage, passando a assinar enredos com ele em 2002, foi homenageada pela verde e branco da zona oeste no fim do desfile. Márcia morreu vítima de leucemia, em janeiro deste ano, quando mais uma vez participou do desenvolvimento de um enredo com Renato.

Rio de Janeiro (RJ), 04/03/2025 – Mocidade Independente de Padre Miguel abre os desfiles no terceiro dia de carnaval do grupo Especial na Marquês de Sapucaí, na região central do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Mocidade Independente de Padre Miguel abriu os desfiles no terceiro dia de carnaval na Marquês de Sapucaí. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Marco Porto, que trabalhou no barracão na equipe de confecção de esculturas, estava bastante emocionado com o desfile e, principalmente, por participar da homenagem à carnavalesca junto a outros integrantes que, como ele, trabalharam nos preparativos do carnaval.

Eles vestiam camisas e balançavam bandeiras com a foto de Márcia.

“Ela era muito presente com a gente no dia a dia. Muito honrado com o trabalho de todos no barracão e fora dele. Todo projeto que ela desenvolveu junto com o marido está aqui. A presença dela está aqui”, explicou.

Não foi a primeira vez que a Mocidade trouxe o futuro para o presente. Em 1985, Ziriguidum 2001, Um Carnaval nas Estrelas, e, em 1987, Tupinicópolis já eram enredos futuristas. Para o carnavalesco Renato Lage, a escola cumpriu a proposta e a estrela, que é símbolo da Mocidade, renasceu.

“A gente pegou o renascimento de uma estrela e por incrível que pareça o símbolo da escola é uma estrela. A gente foi buscar nos astros”, revelou.

O samba cresceu na avenida e, para o intérprete Zé Paulo Sierra, foi resultado do trabalho forte feito na escola.

“Foi legal, né? Eu gostei muito. Foi um grande trabalho com a harmonia, pessoal da bateria, a comunidade. É fruto de muito trabalho na Vila Vintém [comunidade referência da escola]. Fizemos um desfile histórico”, afirmou.

Tia Nilda, matriarca da Mocidade, 82 anos, ao terminar o desfile agradeceu a Deus por estar mais um ano na sua escola de coração depois de ter passado tantos problemas de saúde.

“O mago voltou e a estrela renasceu. Temos que agradecer todos os momentos de nossa vida. Não é só pedir, a gente tem que agradecer também e fazer por onde merecer a graça. Estou feliz, tive depressão e problemas no joelho, mas consegui estar aqui”, revelou, lembrando que tem 46 anos de Mocidade Independente, entre eles como baiana.

Um dos pontos fortes do desfile foi a comissão de frente que levantou o público cada vez que misturava os componentes com os quatro robôs, dois tipos humanoides e dois como cachorros. O coreógrafo Marcelo Misailidis disse que o desenvolvimento da comissão de frente seguiu a tecnologia e o tema futurista do enredo.

“Acho que tem espaço para a gente dialogar com a narrativa, com o efeito e a tecnologia e fazer um espetáculo com identidade e as características do carnaval”, opinou.

Paraíso do Tuiuti

Em seguida, com o enredo Quem tem medo de Xica Manicongo?, a Paraíso do Tuiuti contou a vida da considerada primeira mulher trans do Brasil e seus percalços. Logo no abre alas indicou o que vinha depois: alegorias com destaque para a pessoa escravizada no Congo, que foi levada para Salvador, na Bahia, onde sofreu perseguições por suas manifestações religiosas e foi obrigada a se vestir com roupas identificadas como masculinas.

A intenção da Tuiuti foi mostrar o ser humano por trás da personagem e assim a agremiação do bairro de São Cristóvão, na zona norte do  Rio, conseguiu o seu propósito de aproveitar a visibilidade do desfile para combater o preconceito e dar luz à figura até então pouco conhecida.

Durante a passagem da escola, o público recebia a escola ao som de movimentos de abrir e fechar grandes leques, como costuma usar a população LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexo). Na Praça da Apoteose, a recepção das arquibancadas populares e frisas foi ainda mais calorosa.

Rio de Janeiro (RJ), 04/03/2025 – Paraíso do Tuiuti desfila no terceiro dia de carnaval do grupo Especial na Marquês de Sapucaí, na região central do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Paraíso do Tuiuti apresentou o enredo Quem tem medo de Xica Manicongo? Foto – Tomaz Silva/Agência Brasil

A cantora trans Hud Burk, que foi uma das quatro representações de Xica Manicongo, agradeceu a personagem por ter aberto os caminhos das pessoas trans.

“Estou muito emocionada. É muito importante para mim esse momento; 40 anos de Sapucaí, quem diria que uma mulher trans, Xica Manicongo, a primeira mulher transnão indígena no Brasil, representada no maior espetáculo da Terra. Estou muito feliz . Hoje é dia de vitória, me sinto grata porque ela abriu esse caminho para que eu estivesse aqui” avaliou.

No fim do desfile houve correria para não ultrapassar o limite máximo de 80 minutos. O presidente da Tuiuti, Renato Thor, reconheceu que isso pode descontar pontos, mas está confiante.

“Foi um desfile com um nível tão alto, que, de repente, não vai ser um ou dois décimos que vão ofuscar o que estamos almejando”, afirmou, acrescentando que, quando a equipe de harmonia acelerou a saída de componentes, eles já estavam fora da área dos jurados, mas, no caso da bateria não foi possível fazer apresentação na última cabine de jurados do quesito.

Thor destacou a linha de enredos que a escola vem apresentando.

“A Tuiuti sempre vem fazendo enredos culturais e históricos, sempre na luta contra o preconceito. Esse foi mais um desses enredos que abraçamos com unhas e dentes para desenvolver e alcançar o que se tem presenciado”, destacou.

“O público abraçou o enredo, abraçou o samba da escola em um enredo corajoso e, na atual conjuntura, é um enredo muito necessário. Foi avassalador, foi a prova total. O público abraçou e vamos embora. É isso aí”, destacou Pixulé, intérprete da Tuiuti.

Grande Rio

Na busca por mais um título – a escola foi campeã pela primeira vez em 2022 – a Grande Rio mexeu com o público ao apresentar o enredo Pororocas Parawaras: as Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós. É uma história transmitida de geração a geração nos terreiros de tambor de Mina da Amazônia paraense. O início já causou impacto com a chegada de três princesas turcas à Amazônia em busca de cura.

As princesas Mariana, Herondina e Jarina foram representadas pela cantora Fafá de Belém, pela atriz Dira Paes e pela cantora Naieme.

Rio de Janeiro (RJ), 05/03/2025 – Acadêmicos do Grande Rio desfila no terceiro dia de carnaval do grupo Especial na Marquês de Sapucaí, na região central do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
A Acadêmicos do Grande Rio levou para o Sambódromo o enredo Pororocas Parawaras: as Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós  Foto – Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Rio de Janeiro (RJ), 05/03/2025 – Acadêmicos do Grande Rio desfila no terceiro dia de carnaval do grupo Especial na Marquês de Sapucaí, na região central do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil – Tomaz Silva/Agência Brasil

“Foi muito bom. Eu estou com o joelho completamente estourado, mas segui até o final. Foi lindo o povo todo cantando o samba”, relatou a cantora Fafá de Belém, lembrando que representou Mariana.

“É a minha cabocla”, completou.

“Foi indescritível. Foi lindo, potente, profundo um samba enredo de primeira e os paraenses devolvendo todo o carinho durante todo o percurso”, comentou a atriz Dira Paes”

“Foi lindo, maravilhoso e uma honra imensa. Foi emocionante”, revelou a cantora Naieme.

Governador do Pará, Helder Barbalho atravessou a avenida à frente da escola junto com a família.

“Não tenho palavras de orgulho e emoção de ver nosso estado e podendo mostrar o que é o Pará, o que é a Amazônia nesse que é o maior espetáculo do planeta – o carnaval. Que o mundo possa conhecer o Pará e a Amazônia, neste ano tão especial de COP 30 e ter responsabilidade ambiental”, externou.

A atriz Paola Oliveira, que, como anunciou, seria a última vez que ocuparia o posto de rainha de bateria da Grande Rio, estava realizada após um desfile considerado excelente.

“Caramba, menina, é uma torcida que nem vou embora. Foi lindo demais. É difícil a gente ter a noção lá de dentro da avenida, mas deu para sentir, deu para sentir”, contou à Agência Brasil.

A cantora paraense Dona Onete estava presente. A música dela Quatro Contas serviu de inspiração para os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora elaborarem o enredo Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós. Terminada a apresentação, Dona Onete comentou sobre a emoção de ver as histórias do Pará no Sambódromo do Rio.

“Foi maravilhoso, maravilhoso. [E ainda teve] uma música minha. Eu achei muito lindo”, opinou.

Tempo

As escolas tiveram entre 70 e 80 minutos para se apresentar. Essa também foi uma inovação deste ano, com a ampliação em 10 minutos para a exibição das agremiações.

De acordo com o regulamento, a agremiação com tempo inferior a 70 minutos tem perda de 0,1 (um décimo) de ponto para cada minuto não utilizado. Já as que ultrapassam também têm perda de 0,1 (um décimo) de ponto para cada minuto excedente. Nenhuma escola da última noite ultrapassou o tempo limite.

Desfiles

Na primeira noite do carnaval 2025 passaram pela Sapucaí a Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, a atual campeã Unidos do Viradouro e a Mangueira. Na noite seguinte foram para a avenida Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Salgueiro e Vila Isabel.

Os 36 jurados analisaram as apresentações em módulos localizados ao longo do Sambódromo. Este ano, em cada cabine ficaram quatro deles para julgar os quesitos bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, enredo, alegorias e adereços, fantasias, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira.

A ordem da leitura dos quesitos vai ser conhecida nesta quarta-feira de cinzas (5), entre 12h e 13h30, durante reunião na sede da Liesa – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Neste momento, também será decidido qual quesito servirá de desempate para o caso de resultados com totais iguais.

Apuração será hoje

As notas serão anunciadas na tarde desta quarta-feira de cinzas (5), a partir das 15h. A cerimônia será na Cidade do Samba, na região portuária do Rio, onde também estão localizados os barracões das agremiações.

No ano que vem, um deles vai ter nova ocupante. Será a escola vencedora da Séria A, que terá direito de integrar o Grupo Especial. A escola que ficar em último lugar no Grupo Especial será rebaixada para a Série Ouro. As seis escolas mais bem classificadas voltarão a desfilar no Sábado das Campeãs (8) na Marquês de Sapucaí.

Foto/Fonte: EBC

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