Maricá comemora Dia da Visibilidade Trans
Evento foi marcado por apresentação de longa-metragem no Cine Henfil e ato político cultural em praça central da cidade
Durante o ato, homenagens foram prestadas à travesti Marcia Shokena, assassinada em 2020 no Boqueirão, e à Safira de Martinelli, pai de santo que faleceu em 2021, vítima da Covid-19.
“A gente vem aqui hoje, em pleno domingo, para que todo mundo escute que é muito importante lutar pelo reconhecimento e visibilidade das vidas da população trans. Vidas trans importam. A gente precisa de políticas públicas e que a população entenda que, muitas vezes, nós não temos as mesmas oportunidades que as outras pessoas. Por isso, levantamos nossas vozes a favor dessa luta”, afirmou a coordenadora da pasta LGBTQIA+ e do Movimento Popular da Juventude (MPJ), Allie Monteiro.
Filme sobre Indianara é exibido no Cine Henfil
Na noite de sexta-feira (27/01), moradores e convidados estiveram no Cine Henfil (Centro), prestigiando a exibição do longa-metragem “Indianara”. Dirigido pela francesa Aude Chevalier-Beaumel e pelo brasileiro Marcelo Barbosa, o filme diz respeito à ativista trans que ficou conhecida pelo trabalho de acolhimento a pessoas LGBTQIA+ na casa NEM, no Rio de Janeiro, com direito a comida, educação e orientação.
O documentário mostra como Indianarae Siqueira lidera um grupo de mulheres transgênero que lutam pela própria sobrevivência em um lugar tomado por preconceito, intolerância e polarização. Desde disputas partidárias até o puro combate contra o governo opressor, a ativista de origens humildes passou por uma longa trajetória até se tornar ícone do movimento.
“Indianarae é uma referência no Brasil na defesa das pessoas trans e travestis e de toda a comunidade LGBTQIA+. Ela representa todo esse espaço de combate pela cidadania, pelo respeito a orientação sexual. Uma pessoa que luta por todas as causas da justiça social e de gênero, contra o machismo e todas as formas de preconceito”, explica o coordenador municipal LGBTQIA+ de Maricá e do Fórum LGBTQIA+, Carlos Alves.
Ativistas falam sobre as mudanças para travestis
Ativista do movimento LGBTQIA+ há 30 anos, Katya Jones, de 73 anos, viveu a época de chumbo da ditadura militar entre os anos 60 e 70 e disse o que mudou para os travestis daquele período para os dias atuais.
“A gente não tinha emprego, só podia sair à noite e se fosse pego na rua ficava preso por três meses. Com o tempo fomos nos unindo, vendo os movimentos em outros países, começaram a aparecer gays em famílias tradicionais e hoje podemos andar na rua, alterar os nomes e fazer cirurgia de troca de sexo”, afirmou.
Katya Jones é natural do Rio de Janeiro, mora em Inoã há 15 anos e destacou que a luta pelos direitos de travestis avançou, mas ainda tem muito a conquistar, principalmente no ambiente de trabalho.
“Melhorou para os gays menos afeminados. Queremos, enquanto travestis, trabalhar com roupas que nos sentimos bem e poder usar banheiros femininos, pois tem mulheres que não aceitam que a gente use o mesmo banheiro. Isso ainda precisamos avançar.
Em outros países, como nos Estados Unidos onde uma trans trabalha na NASA, é mais comum ter travestis em ambiente de trabalho e o Brasil vendo isso, começa a abrir a mente”, completou.
“Desmitifica o que é o travesti e o transsexual no mundo. A gente está onde a gente quer. Hoje dar entrevista para um meio de comunicação podendo falar abertamente sobre o que é ser uma mulher transsexual é muito importante, mas a gente ainda quer conquistar mais espaço. Queremos cargos de liderança e respeito que é a palavra chave de todo e qualquer movimento”, declarou.
Dia da Visibilidade Trans
O Dia Nacional da Visibilidade Trans é comemorado no dia 29 de janeiro. A data foi celebrada pela primeira vez em 2004 com um ato em Brasília para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, que foi um marco na história do movimento contra a transfobia e na luta por direitos. A partir daí, foi escolhida a data e definido o “Janeiro Lilás” como o mês dedicado à visibilidade dos transsexuais.