Glauber Braga faz greve de fome e dorme na Câmara após conselho aprovar cassação de seu mandato: ‘Vou até as últimas consequências’
Esquerda alega ‘perseguição política’; são necessários ao menos 257 votos no Plenário para confirmar afastamento
O deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) iniciou uma greve de fome e decidiu permanecer no plenário da Câmara dos Deputados após o Conselho de Ética da Casa aprovar, na noite desta quarta-feira (9), o parecer que recomenda a cassação de seu mandato. O psolista afirmou, nesta quinta-feira (10), que está disposto a “ir até as últimas consequências” para defender seu mandato.
A decisão pela cassação foi tomada após uma sessão de mais de sete horas, marcada por tensão e embates políticos.
“Estou há 30 horas e 30 minutos fazendo somente ingestão de líquidos. Essa tática radical é fruto de uma decisão política: não serei derrotado por Arthur Lira e pelo orçamento secreto”, escreveu o parlamentar.
A proposta de cassação foi aprovada por 13 votos a cinco e tem como base um episódio ocorrido em abril de 2024, quando Braga se envolveu em um confronto físico com um militante de extrema direita ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL). O relator do processo, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) sustentou que houve quebra de decoro parlamentar. Votaram contra o parecer apenas parlamentares das federações Psol-Rede e PT-PCdoB-PV.
Ao anunciar sua greve de fome, Braga classificou o processo como uma tentativa de perseguição política motivada por sua atuação combativa contra práticas como o orçamento secreto e pela oposição aberta ao ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). O deputado também apontou uma suposta articulação entre Lira, Magalhães e o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para garantir o avanço da sessão que votou pela cassação.
Magalhães negou qualquer articulação com Arthur Lira ou Hugo Motta e defendeu a legalidade do processo. Lira, por meio de sua assessoria, também rejeitou as acusações e disse que “não houve acordo nem pedido algum” sobre o caso. A presidência da Câmara não se manifestou sobre as alegações de Braga.
Esquerda alega perseguição política
Parlamentares da esquerda criticaram duramente o parecer e afirmaram que a pena sugerida é desproporcional. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) associou a decisão à tentativa de silenciamento de vozes progressistas. “É uma perseguição política para calar um dos deputados mais combativos do Congresso”, disse. Já a deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) afirmou que o caso representa uma tentativa de “desmoralização de todo um campo político”.
A deputada Sãmia Bomfim (Psol), esposa de Glauber, também o defendeu nas redes sociais.
“Uma deputada perseguiu um homem armada, às vésperas da eleição. Um deputado espancou a namorada. Um deputado foi preso por encomendar o assassinato de Marielle Franco. Em todos esses, o relator que hoje condena Glauber, votou pela absolvição. É pura perseguição! #GlauberFica”, disse.
A sessão do Conselho de Ética foi acompanhada por apoiadores de Braga, entre eles representantes de sindicatos, movimentos populares e parlamentares de esquerda.
Braga afirmou que utilizará todos os mecanismos regimentais para tentar reverter a decisão no plenário, onde será tomada a deliberação final. São necessários ao menos 257 votos para a cassação. Caso o mandato seja efetivamente perdido, a legenda pretende acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) com base em questionamentos sobre o rito adotado e possíveis motivações ideológicas.
Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados
Fonte: Brasil de Fato