Flim traz discussão sobre fé, saúde e política

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Com mediação de Stepan Nercessian, Jandira Feghali, Alexandre Cabral, Bruno Paes Manso e Felipe Eugênio debateram o tema no sábado (09/11)

O penúltimo dia da 9ª Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), realizada na orla do Parque Nanci, reuniu convidados para uma roda de conversa sobre fé, saúde e política no sábado (09/11), na tenda Papo Flim. Com mediação do ator Stepan Nercessian, a mesa reuniu os escritores Alexandre Cabral e Bruno Paes Manso, a médica e deputada Jandira Feghali e o representante da Fiocruz Felipe Eugênio.

Na abertura, o mediador destacou a importância da discussão do tema em Maricá porque a cidade, afirma Nercessian, “tem sido uma referência em políticas públicas, mostrando que é possível fazer ações para mudar a vida das pessoas”. Bruno Paes Manso pontuou que os principais desafios políticos a serem mediados nos centros urbanos têm relação com as violências policiais, de milícias e das facções criminosas. Autor de “A guerra: a ascensão do PCC”, ele também é jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP e veio para o Rio de Janeiro para entender como funciona a milícia.

“A diferença dos crimes entre Rio e São Paulo é uma histórica ligação do crime de contravenção com a polícia, de pessoas envolvidas com jogo do bicho. Em São Paulo, a venda de drogas não depende do domínio territorial”, afirma o pesquisador.
Jandira ressaltou o tema central da roda de conversa, onde a política é transversal e precisa ser discutida coletivamente pelo direito de todos.
“Fé tem uma relação direta com a democracia que é liberdade de culto. A saúde precisa ter acesso universal e a política é colocada pelo bem comum com direito à vida, de pensar, criticar, organizar e se manifestar. A desigualdade também se estabelece no recorte de classe, raça e gênero. Tudo isso é um debate que nos coloca na seguinte reflexão, todos nós temos direitos iguais perante a lei que está escrito na Constituição, ou não? Na minha opinião, não. Isso é um direito formal, ele está escrito, mas ele não está realizado”, destacou.
A deputada também citou a importância de eventos como a Flim com livros que tragam conteúdo para desmitificar a desigualdade que, segundo ela, o capitalismo trouxe para a humanidade.
“É preciso que a criança e a juventude entendam que a igualdade de raça se forma sem preconceito, discriminação, violência e ódio, com uma cultura democrática de paz e isso a gente não faz sem a educação, sem o livro. A cultura é poder e é hoje o movimento mais transformador e emancipador da política pública brasileira. Tenho certeza que feiras como essa vão contribuir para que pessoas entendem o poder da palavra”, enfatizou a parlamentar, que também citou a guerra de Israel contra a Palestina que tem vitimado muitos civis desarmados. A organização da Flim também estendeu uma bandeira da Palestina no palco em apoio à população do país.
Felipe Eugênio, coordenador da Periferia Brasileira de Letras, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirmou que o órgão federal tem o compromisso da saúde com a democracia, onde trabalham com literatura nas periferias.
“Identificamos que inúmeros coletivos literários, como saraus poéticos, bibliotecas comunitárias, rodas de leitura e teatro de rua, nos territórios da favela, têm sido as experiências mais interessantes de mobilização social e de formação crítica”, disse Felipe.
Alexandre Cabral ressaltou que o poder macropolítico na comunidade que é exercido pela Igreja Universal produz o racismo religioso, o discurso homofóbico e a culpabilização da pobreza. Para o filósofo, não tem como pensar em processo de libertação se não tiver um diálogo com os protestantismos históricos e os movimentos evangélicos contemporâneos, com as culturas de terreiros, mas, sobretudo, com o que chamou de “o racismo religioso cristão em terras brasileiras”.
“Somente a Constituição de 1988 leva a sério a livre consciência religiosas dos cidadãos e cidadãs do país. Até então, o cristianismo católico era a religião oficial da construção desse país. Se nós queremos brasilidade com voz a quem nunca teve lugar, se não questionarmos qual é a cruz que está em todas as instituições públicas do Brasil, nós continuaremos a ver preto com Bíblia de baixo do braço fechando terreiro em nome da bandeira de Israel que não tem nada a ver com Israel na Bíblia”, enfatizou.
A Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), iniciada no dia 01/11 na orla do Parque Nanci, encerra neste domingo (10/11). Para acompanhar a programação completa e as atividades em tempo real, acesse as redes sociais da Flim (@flimrj) e da Prefeitura de Maricá (@prefeiturademarica) ou o site: www.flimmarica.com.br.

Programação de domingo (01/11)

9h30 – Show Violúdico no palco Collab

14h30 – Apresentação Ih, Contei! na Flimzinha

17h – Roda de Conversa “Literatura nas páginas e nas telas” — com Estevão Ribeiro, MV Bill e Conceição Evaristo. Mediação: Sonia Rodrigues. Tenda Papo Flim

20h – Show do Geraldo Azevedo

 
 
Foto: Clarildo Menezes 

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