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Ensaio clínico inovador mundial apoiado por MSF para tuberculose multirresistente conclui inscrição

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Próximos resultados desse ensaio clínico inovador podem mudar a vida de mais de 500 mil pessoas e ajudar a tratar adequadamente milhões de pacientes nas próximas décadas

BOSTON/PARIS, 18 de outubro de 2021 – Ao todo, 750 pacientes voluntários de quatro continentes se inscreveram em um ensaio que visa a encontrar tratamentos mais seguros, mais curtos e eficazes para a tuberculose multirresistente (MDR-TB), uma doença infecciosa transmitida pelo ar resistente a medicamentos convencionais. Um grupo de cientistas e médicos liderados por Médicos Sem Fronteiras (MSF), Partners In Health (PIH) e Interactive Research and Development (IRD) compõe o consórcio endTB (“fim da TB”, em tradução livre) conduzindo o estudo inovador financiado pela Unitaid.

 

Iniciado em 2017, esse ensaio clínico recrutou 750 pacientes com MDR-TB em sete países: Geórgia, Índia, Cazaquistão, Lesoto, Paquistão, Peru e África do Sul. E compara cinco novos regimes de tratamento para a MDR-TB, contendo dois dos três novos medicamentos contra TB desenvolvidos nos últimos anos – bedaquilina e delamanid – em combinação com outros fármacos orais existentes para a doença.

 

Essa nova geração de medicamentos, que foi desenvolvida após uma ausência de quase 50 anos em novas classes de fármacos contra a TB, agora permite o desenvolvimento de tratamentos para MDR-TB radicalmente mais curtos (seis ou nove meses versus até dois anos), além de serem mais toleráveis aos pacientes e sem injeções.

População de estudo diversa

“Antigo inimigo da humanidade, a tuberculose continua a ser a doença infecciosa mais mortal hoje, e MDR-TB é a versão mais cruel e implacável. Os próximos resultados desse ensaio podem mudar a vida de mais de 500 mil pessoas que sofrem de MDR-TB e ajudar a tratar adequadamente milhões de pacientes no amanhã e nas próximas décadas”, disse o dr. Lorenzo Guglielmetti, coordenador do projeto endTB para MSF e co-principal pesquisador do ensaio.

 

“Os resultados, que estarão disponíveis em 2023, serão relevantes para uma ampla gama de pacientes que vivem com MDR-TB. Isso se deve à diversidade da população do estudo: embora todos estivessem doentes com TB resistente ao tratamento padrão, a população do estudo incluiu pessoas de uma variedade de origens raciais e étnicas e indivíduos afetados por comorbidades que ocorrem comumente com a MDR-TB, como HIV, hepatite C ou diabetes. Pessoas com essas condições são frequentemente excluídas dos testes de TB, tornando difícil para os médicos saberem a melhor forma de tratar seus pacientes”, acrescenta a dra. Carole Mitnick, professora de Saúde Global e Medicina Social da Escola de Medicina de Harvardl e co-principal pesquisadora do ensaio.

 

“Este é um marco significativo no maior investimento da Unitaid em TB. Com novos dados preocupantes do Relatório Global da TB, mostrando que o progresso contra a doença está retrocedendo pela primeira vez em mais de uma década, novas ferramentas e tratamentos são mais cruciais do que nunca. O inovador e multinacional estudo endTB, feito com a colaboração de vários países, beneficiará não apenas pessoas com MDR-TB – uma forma de TB mais complexa e difícil de curar – mas também está construindo capacidade de longo prazo nos países que estão gerenciando esse estudo clínico multifacetado”, disse o dr. Philippe Duneton, diretor-executivo da Unitaid.

Inovador e projetado para beneficiar todos

estudo é inovador. Órgãos reguladores haviam aprovado os medicamentos individuais – os primeiros novos fármacos para tuberculose em 50 anos – mas não se sabia como combiná-los da maneira ideal. Em vez de testar diferentes regimes de medicamentos sequencialmente por uma década ou mais, os parceiros aplicaram a randomização adaptativa, maximizando o número de pacientes que obtêm um bom desempenho nos regimes experimentais. Isso permite um tamanho de amostra relativamente pequeno (750 pessoas), requer menos recursos e pode permitir grandes melhorias no tratamento em curtos períodos de tempo.

 

A inscrição é projetada para beneficiar a todos. O endTB inscreveu mulheres e adolescentes – grupos que muitas vezes são deixados de fora dos ensaios clínicos em um esforço para protegê-los – para garantir que os médicos tenham os dados que precisam para cuidar melhor deles. O consórcio também ajudou a treinar equipes em centros clínicos, permitindo mais pesquisas, recomendações mais rápidas e melhores tratamentos no futuro.

 

É significativo que a inscrição tenha sido concluída apesar das enormes restrições relacionadas à pandemia da COVID-19, que interrompeu centenas de ensaios clínicos. Universidades, hospitais, laboratórios e outros locais de pesquisa foram forçados a interromper ou cancelar o estudo de complicações que variam desde câncer a doenças raras. Em vez disso, o consórcio endTB se adaptou e continuou.

Outras pesquisas envolvidas

Esse ensaio clínico faz parte de um projeto maior de TB que foi lançado para revolucionar o tratamento de pacientes com MDR-TB. Aproximadamente 2.800 pacientes de 17 países foram incluídos em um estudo observacional que produziu fortes evidências da eficácia de novos medicamentos (85% de conversão da cultura nos primeiros seis meses de tratamento) e ainda apoia um rápido aumento no acesso a esses medicamentos. Um segundo ensaio clínico randomizado, denominado endTB-Q, está em andamento para estudar um regime de seis e nove meses para tratar a forma mais resistente da MDR-TB.

 

Além disso, o estudo endTB complementa o ensaio clínico TB-PRACTECAL, também patrocinado por MSF, que inclui outro medicamento mais recente chamado pretomanid, para fornecer evidências de alta qualidade em regimes mais curtos e totalmente orais. Em última análise, ambos atendem à necessidade crítica de maiores opções de tratamento e acesso a eles para aproximadamente 500 mil pessoas que adoecem todos os anos com MDR-TB.

 

 

Foto: Bithin Das

Fonte: Médicos Sem Fronteiras (MSF) 

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