Como anda a vacinação contra a covid-19 ao redor do mundo?
Vacinação contra a covid-19 no mundo
Cerca de 71,1 milhões de pessoas ao redor do mundo já foram vacinadas contra a covid-19, segundo dados disponíveis na plataforma Our World in Data (Nosso mundo em dados, em português) nesta quarta-feira (27). A ferramenta é desenvolvida pela Universidade de Oxford e atualizada em tempo real.
Os Estados Unidos, país mais afetado pelo vírus, ocupa o primeiro lugar no número absoluto de pessoas que já foram vacinadas entre as mais de 56 nações que iniciaram a imunização.
Até o momento, mais de 23,5 milhões de americanos foram vacinados com as substâncias da Pfizer e Moderna.
Já a China, pioneira na aplicação das doses emergenciais no início de dezembro, está na segunda posição, com mais de 15 milhões de vacinados.
Foram utilizadas as vacinas desenvolvidas pela Sinovac Biotech, com quem o Instituto Butantan tem parceria, assim como o imunizante desenvolvido pela estatal China National Biotech Group.
O Reino Unido, por sua vez, foi o primeiro país ocidental a aprovar uma vacina contra a covid-19 e aparece em terceiro lugar no ranking de imunização geral, com mais de 7,3 milhões de pessoas protegidas.
Uma delas é a britânica Alice Pappon, de 20 anos, que já recebeu a primeira dose da vacina da Pfizer. Ela é voluntária em um centro de vacinação e recebeu o imunizante há menos de uma semana.
Nascida em Londres e filha de brasileiros, ela aguarda representantes do sistema de saúde do Reino Unido entrarem em contato em algum momento das próximas 12 semanas para que possa receber a segunda dose do imunizante.
“Ser vacinada é realmente um grande privilégio. Não só me faz sentir mais segura, principalmente enquanto voluntária, mas é incrível sentir o início de algo que é, potencialmente, o fim [da pandemia]”, conta Pappon.
A jovem relembra que escutou de diversas pessoas que estavam sendo imunizadas que aquela era a primeira vez que saíram de casa em meses devido à pandemia.
“Uma mulher me disse que só queria poder abraçar novamente. Receber a vacina me permitiu ter esperança pro futuro de novo”, diz ela.
A espera pela segunda dose também é vivida por Ricardo Lima, aposentado que trabalha com consultoria financeira em Nova York, uma das cidades americanas mais atingidas pelo coronavírus.
Em razão da idade, ele pôde se vacinar na primeira quinzena de janeiro, após os profissionais da saúde serem imunizados ao longo do mês de dezembro.
Lima relata que o processo de vacinação foi muito bem organizado e que os pacientes respeitaram sinalizações na calçada para cumprir o distanciamento social necessário.
Após ler e assinar os formulários, escolheu o braço esquerdo para receber a vacina da Moderna.
“Saí da cabine [de vacinação] e sentei num salão. Tem que ficar entre 15 e 30 minutos para verificar se tem reação. Como não tive, uma funcionária falou comigo e, antes de autorizar minha saída, marcou a 2ª dose para 11 de fevereiro. Eu me sinto bem e estou feliz em ter tomado a 1ª dose”, afirma.
“Cada dia que passa, mais gente fica imunizada. Os médicos disseram que depois de 2ª dose, ainda temos que ficar em casa de duas a quatro semanas”, detalha.
Até esta terça (26), cerca de 650 mil pessoas já haviam sido vacinadas em Nova York.
Imunização avançada
Embora Israel esteja em quarto lugar com quase 4,1 milhões de doses aplicadas no ranking internacional, é o país que, proporcionalmente, mais vacinou seus cidadãos.
Pelo menos 31,9% de toda a população israelense já recebeu ao menos uma dose do imunizante contra a covid, de acordo com dados mais recentes da plataforma Our World in Data.
Para fins de comparação, a referida taxa no Reino Unido é de 10,1%, enquanto nos Estados Unidos é de 6%.
No Brasil, por exemplo, que segundo o monitoramento de Oxford alcançou a marca de 700 mil pessoas imunizadas dez dias após a aprovação do uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o índice é de 0,33%.
O fato de vacinar 31% da população em três semanas, fez com que Israel ganhasse holofotes internacionais. Nesta segunda-feira (25), o Ministério da Saúde do país informou que houve uma baixa de 60% no número de internações entre a população idosa após o início da campanha de vacinação, em 20 de dezembro do ano passado.
Depois dos profissionais de saúde, as pessoas com mais de 60 anos foram as primeiras a receber a primeira dose. Esta semana jovens de 16 a 18 anos também entraram na lista do público alvo da campanha.
Por outro lado, a infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen afirma que não há como afirmar que os índices positivos resultam exclusivamente da aplicação da vacina, já que há outros fatores a serem levados em conta.
“No momento, a análise ainda é precoce e não podemos saber o impacto [da vacina] nos países que já começaram, principalmente porque muitos países adotaram medidas restritivas, lockdowns e toque de recolher para diminuir o número de pessoas contaminadas”, afirma a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
“A partir do momento que se tem menos pessoas se contaminando, e há a vacinação, fica difícil saber os impactos de cada processo”, ressalta Hinrichsen.
A especialista adiciona que estudos sobre o assunto e o acompanhamento das pessoas vacinadas já estão sendo realizados. Não só em Israel, que enfrenta seu terceiro lockdown para conter o avanço do vírus e vislumbra a flexibilização no próximo mês, mas em outros lugares do mundo.
“Até que possamos ter mais segurança de que temos um número maior, de 70% a 80% das pessoas vacinadas, é importantíssimo usar as medidas de prevenção de barreira. O uso da máscara, higienizar as mãos, não colocar as mãos sujas no rosto e o distanciamento físico”, ressalta a infectologista.
E o resto do mundo?
Europa
Em 27 de dezembro, a União Europeia deu início a uma campanha massiva de vacinação em todas as nações que integram o bloco, com prioridade para idosos e profissionais de saúde.
Assim como nos demais países, com exceção do Brasil, a primeira vacina escolhida foi a produzida pela Pfizer em parceria com a Biontech. Mais de 9,7 milhões já foram vacinados.
No total, o bloco europeu já assinou seis contratos com empresas farmacêuticas para garantir duas bilhões de doses e garantir a vacinação de todos os adultos em 2021.
Entretanto, um mês depois, a previsão de imunizar 70% da população do continente até o fim do verão, em agosto, está ameaçada devido a problemas na fabricação das substâncias.
A Pfizer comunicou na semana passada que teria que cortar a entrega de doses aos países da UE devido a problemas de fornecimento, aumentando a lentidão na imunização.
O anúncio fez com que os líderes do bloco pressionassem ainda mais a Astrazeneca, farmacêutica que desenvolveu o imunizante em parceria com Oxford.
Porém, na sexta feira passada (22), o laboratório informou que a entrega será menor do que a prevista aos países europeus em razão da queda de desempenho em uma das fábricas. A Comissão Europeia, que reservou inicialmente cerca de 400 milhões de doses do imunizante, definiu o novo calendário de fornecimento das doses como “inaceitável” e convocou mais reuniões com a empresa.
Já a Rússia, que faz fronteira com o Leste Europeu e com a Ásia, começou a vacinar trabalhares em risco com a Sputnik V, desenvolvida pelo Centro Nacional Russo de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, em 5 de dezembro.
Até 13 de janeiro, mais de um milhão de pessoas haviam sido vacinadas no país.
América Latina
A maioria dos países da região ainda não alcançou patamares consideráveis de pessoas vacinadas. Além do Brasil, Argentina, Chile, Costa Rica e México começaram a imunização.
Mais de 282 mil argentinos receberam doses da Sputinik V, enquanto no Chile, mais de 66 mil, segundo o Our World Data, foram imunizados com a vacina da Pfizer-Biontech.
O imunizante americano também foi aplicado para mais de 652 mil pessoas no México e para pouco mais de 48 mil na Costa Rica.
No Uruguai e no Paraguai, as negociações para compra das vacinas ainda não foram concretizadas. Há uma grande expectativa de acesso às vacinas por meio do acordo Covax, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para garantir a aplicação do imunizante em todos os países.
Lideranças da Colômbia e do Peru, por exemplo, já anunciaram que pretendem complementar o programa de vacinação com as doses fornecidas pelo mecanismo ainda no primeiro trimestre deste ano. O mesmo acontece com Guatemala e Honduras, os países centro-americanos mais pobres da região.
Já a Bolívia autorizou a utilização da vacina russa Sputnik V no início de janeiro, quando foram compradas 5,2 milhões de doses, aguardadas para março deste ano.
O mesmo aconteceu na Venezuela. O governo Nicolás Maduro anunciou um acordo com o Instituto Gamaleya da Rússia para comprar cerca de 10 milhões de doses da vacina russa que devem chegar nos primeiros três meses deste ano
O Equador, um dos países mais afetados pela pandemia na América Latina, iniciou a imunização na última quinta-feira (21), dando preferência aos profissionais de saúde da linha de frente no combate ao vírus.
A campanha de cobertura vacinal começou um dia após o primeiro lote de 8 mil doses chegarem ao país e serem aplicadas os hospitais estaduais de Quito e Guayaquil. Mais de 2 milhões de doses da Pfizer, no total, foram adquiridas.
África
No fim de 2020, o diretor do Centro de Controle de Doenças da África, John Nkengasong, declarou que o mundo se tornaria uma “catástrofe moral” se a vacinação contra a covid-19 fosse adiada no continente em comparação com outras regiões mais ricas – o que, em certa medida, já está acontecendo.
Em coletiva de imprensa realizada à época, Nkengasong afirmou que a expectativa é que campanhas de vacinação significativas comecem em abril na África.
A disponibilidade global e o financiamento estão entre os principais empecilhos para o início da imunização. Além de negociações com outros países, o continente, como um todo, aguarda as doses que serão fornecidas pelo programa Covax da OMS.
Aplicações experimentais de autoridades aconteceram pontualmente. Guiné, por exemplo, país no oeste da África, recebeu algumas dezenas de doses da Sputnik V.
A África do Sul é o pais mais atingido pela pandemia no continente, com 1,4 milhões de diagnósticos positivos para a covid de acordo com a Universidade Jonhs Hopkins. Mais de 47 mil mortes foram registradas no país.
Ásia
Ao lado da China, os Emirados Árábes estão entre os países asiáticos que mais vacinaram, com mais de 2,6 milhões de pessoas imunizadas, cerca de 24,5% da população total.
A Índia, por sua vez, lançou o maior programa de vacinação no mundo no último dia 16 de janeiro, com o objetivo de imunizar 30 milhões de pessoas de alto risco, começando pelos profissionais de saúde.
Serão duas vacinas disponibilizadas para a população, a Covishield, da AstraZeneca, desenvolvida localmente pelo Instituto Serum, e a Covaxin, da Bharat Biotech.
Até o momento, conforme o Our World in Data, mais de 2 milhões de pessoas foram vacinadas, um coeficiente que corresponde a 0,15% do total da população indiana.
No Japão, a vacinação generalizada começará somente em maio, já que o governo espera autorização da agência reguladora para a aplicação do imunizante da Pfizer para o próximo mês.
O objetivo é que a maioria da população adulta do país tenha recebido uma vacina antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, previstos para julho.
Em Singapura, mais de 60 mil já foram imunizados. Já na Indonésia, cerca de 161 mil doses foram aplicadas.
Filipinas e Paquistão aguardarão o segundo semestre, assim como Afeganistão e Tailândia.
Oceania
O governo da Austrália aprovou o uso emergencial da vacina da Pfizer no último domingo (24). Com o anúncio da Administração de Produtos Terapêuticos (TGA, em inglês), órgão regulador de saúde do país, a vacinação deve começar no próximo mês para profissionais de saúde e idosos.
O país, que tem cerca menos de 30 mil casos de contaminação e somente 900 óbitos em decorrência da doença respiratória, também estuda acordos com a AstraZeneca e com a Novavax, empresa de biotecnologia americana com imunizante em fase de destes.
Já a Nova Zelândia é um caso à parte. Em dezembro de 2020, o país assegurou ter doses a mais das vacinas, o suficiente para oferece-las de graça para as nações vizinhas.
Foram assinados acordos com a Astrazeneca e com a Novavax, totalizando 18 milhões de doses a serem entregues. Como ambas imunizantes requerem duas aplicações, cerca de 9 milhões de pessoas poderão ser vacinadas.
Entretanto, considerando que a população da Nova Zelandia tem apenas 5 milhões de pessoas, o excedente será distribuído para países como Sama, Ilhas Cook, Tonga, Tuvalu e Tokelau.
Edição: Leandro Melito
Foto: Ben Stansall/AFP
Fonte: Brasil de Fato