Atos em Brasília marcam Dia da Visibilidade Trans nesta quarta (29)
Manifestações incluem hasteamento de bandeira, protesto em frente à embaixada dos EUA e lançamento de registro de 2024
Brasília será palco de três atos nesta quarta-feira (29), Dia da Visibilidade Trans no Brasil. Com a proposta de reafirmar a resistência e a visibilidade da população trans, vai ser realizado o hasteamento da maior bandeira trans do país, um ato em frente à embaixada dos Estados Unidos e o lançamento do Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024.
As manifestações foram organizados pela Rede Trans Brasil, Estruturação – Grupo LGBT+ de Brasília, Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos (CentroDH) e Instituto Igualdade e Fraternidade (INPDH). Segundo os movimentos, os atos simbolizam a luta e o orgulho da comunidade trans no Brasil.
“Esta quarta é o dia de a gente dizer que não aceitaremos nenhum retrocesso. É o dia de a gente mandar solidariedade à população LGBT americana e dizer ‘não’ à política fascista, neofascista do governo Trump, que tenta arrancar, mais uma vez, das populações mais vulnerabilizadas — uma população com deficiência, as pessoas trans, a população LGBT, a população negra —, os direitos conquistados. São os grupos que mais temem, nesse exato momento, perder seus direitos nos Estados Unidos”, afirma Michel Platini, presidente do Estruturação.
Os eventos fazem parte das ações da Semana da Visibilidade Trans Hanna Suzart e reforçam a importância da visibilidade, da inclusão e da luta contra o preconceito. O Dia da Visibilidade Trans é celebrado no Brasil desde 2004 e marca a resistência de uma população historicamente marginalizada, mas que segue lutando por seus direitos e por uma sociedade mais justa e igualitária.
Programação
A programação começou às 6h com o hasteamento da maior bandeira trans do Brasil na plataforma superior, entre o Conic e a Rodoviária do Plano Piloto. Para Platini, hastear a maior bandeira trans do Brasil é um grito de resistência.
“O ato demonstra a presença e a luta diária da população trans para construir uma sociedade onde seus direitos sejam respeitados e garantidos”, diz.
A partir das 10h, um ato para denunciar os ataques aos direitos da população LGBT+, negros e pessoas com deficiência promovidos pelo governo Trump será realizado em frente à embaixada dos Estados Unidos em Brasília. Com o nome “No Rights Less! Solidarity with the U.S. LGBT+ Population!”, a manifestação é um chamado à resistência contra os retrocessos que ameaçam conquistas históricas dos direitos humanos.
Segundo Michel Platini é importante resistir a essa “onda fascista que insiste em atacar os nossos direitos duramente conquistados”.
“A gente escolheu o dia 29 por toda sua simbologia. É um dia que funciona como uma mola impulsionadora para que a gente tenha força para reagir a esses ataques e a essas violências que a nossa população sempre sofre quando o extremismo e o fascismo chegam ao poder”.
“Quando esses setores mais fundamentalistas e fascistas, chegam ao poder — e isso a gente tem falado permanentemente aqui no Brasil —, quem mais sofre são essas populações, as populações mais vulnerabilizadas na política pública e na própria sociedade”, destaca Michel.
O Brasil se posiciona contra esses retrocessos e em defesa de uma sociedade justa, plural e inclusiva. Para Tatiana Araújo, presidenta da Rede Trans Brasil:
“Não se enganem: defender os direitos trans é defender os direitos humanos como um todo. É hora de mostrarmos nossa indignação e cobrarmos responsabilidade contra esses ataques.”
No mesmo dia, às 14h, será realizado o lançamento do Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília. O evento, apresentado por Sayonara Naider Bonfim Nogueira e Tathiane Aquino Araújo, irá discutir a expectativa de vida da população trans e a necessidade de um olhar voltado para a inclusão de estudantes trans na educação brasileira.
Governo mais reacionário
Na segunda-feira (20), o republicano Donald Trump foi empossado na Casa Branca. Em seu retorno à presidência, Trump adotou a retórica da extrema direita de forma explícita em acenos ao eleitorado conservador, fez novos ataques à população migrante e a países como México, Panamá e China. Alguns temas como raça e gênero, abordados de forma sutil em 2017, foram atacados diretamente em 2025, tornando explícito o posicionamento do mandatário.
Um dos exemplos foi em seu discurso de campanha, em que o presidente anunciou que irá encerrar a “política governamental de raça e gênero em todos os aspectos da vida pública e privada”.
“Vamos financiar uma sociedade que não vê cores e é baseada no mérito. A política oficial do governo dos Estados Unidos é a de que só existem dois gêneros, homem e mulher”, disse o presidente americano.
Além de atacar a pauta por igualdade racial no país, Trump sinalizou que vai ignorar as dissidências de gênero, um retrocesso na luta pelos direitos civis.
Michel aponta que os Estados Unidos, tanto quanto o Brasil, figuram os países que mais matam pessoas trans no mundo.
“Esses países deveriam se dedicar à criação de políticas públicas para o enfrentamento dessas violências que se tornaram epidemia nesses países. Ao anunciar que o país só vai ter dois gêneros, ao determinar que mulheres trans sejam transferidas para cadeias masculinas, essas ações, têm um efeito muito maior na sociedade”, lembra.
“O que nós queremos dizer com esse ato amanhã é mandar uma mensagem de solidariedade. É dizer que todos os países, todo mundo precisa se levantar, repudiar e se manifestar contra essa violência que está sendo imposta à população trans, à população LGBT nos Estados Unidos. É uma reação que precisa ser mundial e ser internacionalizada”, reforça o presidente do Estruturação.
Foto/Fonte: BDF