Na praia de Maricá, Darcy Ribeiro concluiu um dos livros mais importantes da história: O Povo Brasileiro
Foi em Maricá, nos últimos anos de sua vida, que o educador e antropólogo Darcy Ribeiro concluiu a sua obra mais ambiciosa, “O Povo Brasileiro”, em 1995. Com câncer e pneumonia, fugiu do hospital para se refugiar em frente à praia em uma casa em formato de oca, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, na rua 119, em Cordeirinho.
Em homenagem ao educador e à cultura brasileira, a Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar) está transformando a residência em Casa-Museu Darcy Ribeiro.
O trabalho de Darcy Ribeiro foi essencial para difundir o conceito de identidade cultural e educacional brasileira. A obra retrata o inconformismo pela desigualdade social e percorre a história da formação da civilização brasileira.
No prefácio, o autor cita sua relação com a cidade que o inspirou a finalizar o livro escrito e reescrito por 30 anos.
“Nesses anos todos, o livro, este, ficou por aí, engavetado, amarelando, esperando até hoje. Agora, estou aqui na praia de Maricá, para onde trouxe as pastas com o papelório de suas várias versões”, contou.
“Escrever este livro foi o desafio maior que me propus (…) essa angústia se aguçou porque me vi na iminência de morrer sem concluí-lo. Fugi do hospital, aqui para Maricá, para viver e também para escrevê-lo. Se você, hoje, o tem em mãos para ler, em letras de forma, é porque afinal venci, fazendo-o existir. Tomara”, concluiu.
A casa
A residência de Darcy em breve abre as portas como casa-museu, dentro de um projeto desenvolvido pela Codemar. Originalmente idealizada por Oscar Niemeyer, a casa recebe atualmente projeto de extensão do arquiteto Gringo Cardia.
O interior da construção, erguida há cerca de 30 anos, vai receber painéis digitais onde serão apresentadas a vida e a obra do antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político.
A casa integra o conjunto de ações que resgatam o valor da cultura separados por temas, como “Raízes do Brasil”, “Darcy e a educação/Oscar Niemeyer”, “A vida e obra de Darcy Ribeiro”, “Vida e obra/História de Maricá”, “Maira/Cosmologia Indígena” e “Pensamento Vivo”.
Também vai haver estúdio de gravação e depoimentos sobre as culturas jovens do rap e do repente influenciadas por Darcy, além de, quiosque e biblioteca.
Os conteúdos audiovisuais serão feitos a partir do recorte do curador com uma equipe de pesquisa a ser formada por historiadores, cujo conteúdo será transformado em um livro conceitual e base para os vídeos que serão realizados.
Visitas de fotógrafos
Um grupo de fotógrafos da Agência FOTORIO, que tem 20 anos de atuação no mercado, visitou na semana passada as obras da Casa-Museu Darcy Ribeiro. Entre os profissionais, estava Milton Guran, 74 anos, que tem uma história peculiar relacionada ao antropólogo.
Curador da exposição ‘O Olhar Precioso de Darcy Ribeiro’, lançado em 2010, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, Guran descobriu um tesouro durante pesquisa no Museu do Indio: cerca de dois mil negativos de autoria do Darcy perdidos entre documentos. Delas, foram selecionadas 50 do período em que conviveu com três comunidades indígenas: kadiwéu, urubu-ka’apor e ofayé, entre 1941 e 1951.
“Enquanto repórter fotográfico, fotografei o Darcy na década de 70. Eu estudei toda a obra do Darcy, seja para trabalhar com a questão indígena ou pensar o Brasil. Não se fala muito sobre ele ter pensado o país inteiro. Poucas antropologias no mundo produziram pessoas capazes de pensar um país com a complexidade do Brasil. O Darcy é produto dessa antropologia extremamente desenvolvida e que pensa o mundo e ele pensou no povo brasileiro”, disse Guran.
A obra
Para ser transformada em casa-museu e museu digital, a casa está passando por obra de revitalização realizada pela Codemar. A obra é acompanhada de perto pela Diretoria de Economia Criativa e Sustentável da empresa, que vai instalar acessibilidade e deque interligando a casa com a futura Praça da Utopia e com outra casa-museu na rua ao lado, da sambista Beth Carvalho, cujo projeto está em elaboração.
“A casa será um espaço de referência a tudo que engloba o Darcy. Seus pensamentos e ideias, além de reverberar suas obras”, diz o presidente da Codemar, Hamilton Lacerda.
A estátua de braços abertos, na praia, com sapatos e paletó nas mãos em frente ao desenho arquitetônico retrata uma fotografia tirada no ano de 1976, quando Darcy voltou do exílio e quis ir direto molhar os pés na praia.
Foto: Leonardo Fonseca
Fonte: Codemar