Conta-Gotas – Por Djailma Mendes
Conta-Gotas
Meu nome é Djailma Mendes, “não tenho outro de pia…”. Nasci pirpiritubense no agreste da Paraíba, na cidade dos juncos, a sempre grande, para mim, Pirpirituba.
A literatura teve início em mim ainda no solo natal. Foi na terra umbilical, entre as paredes que contam histórias, provando os doces de minha vó Doça, carregando lanterninhas nas procissões, ariando panelas, dançando para as tanajuras, tomando banho de chuva… que a literatura fez morada em meu corpo pequeno e me fez grande, me fez feliz.
Migrei para o Rio de Janeiro. Para a menina que fui, foi um corte profundo, uma cisão mas na mala, além da saudade, carregava o cheiro, as gentes, os sabores e os saberes do lugar onde fui e onde sempre sou criança. Prenhe de textos, virei sede. Só sede. Toda sede. Inundei-me de uma fonte (de inspiração) que nunca seca. Volto sempre, aos grandes goles, ao meu conterrâneo Ariano Suassuna. Nele encontrei a minha nordestinidade, o meu lugar. Em Rubem Alves vejo as belezas do mundo; Saramago fez-se Esfinge: “Decifra-me ou…”; Raquel de Queirós deu vida às mulheres fortes de uma terra forte.
Como diria Fernando Pessoa, “sou um intervalo”, meu texto é o intervalo entre esse tempo de eterna memória e o hoje. Não sou casmurra, mas sigo tentando atar as pontas. O meu livro Conta-gotas (2021/ Editora Letras Virtuais) é o laço do tempo das minhas memórias e das memórias que crio como boa fingidora que sou. As pequenas gotas começaram a pingar em março de 2020 e encheram um pequeno cântaro. São pequenas gotas poéticas de vida, poesias sobre velhos e velhas, sobre Maria, o dom divino, sobre a escola pública e fundamental, sobre a banalidade que é a vida. Além do meu Conta-gotas tenho publicado dois contos em antologias Vó preta (2020), pela Editora Popular Venas Abiertas e Milagrinhos (2021) pela Editora Letras Virtuais.
Futuramente tenho planos de criar uma ponte aérea-literária entre Pirpirituba e Itaperuna-RJ junto com minha amiga e também escritora, Lu Rodrigues.
Sigo lendo e virando lenda, como diria Leminski.
“A VIDA, esta breve vida, este grito, este canto, este pisco, esta casa de lembrar me trouxe hoje o abraço.”
“Abraço é evento; abraço não é coisa. As coisas permanecem no tempo, o evento transcende o tempo e faz morada no corpo. Onde foi parar o abraço desta tarde?”